domingo, 19 de junho de 2016

Os Santos Populares


TEMPO DE SÃO JOÃO

São João marcava o tempo. Era quase sempre uma referência para algum facto ou acontecimento que tivesse sucedido no mês de Junho. Quando alguém dizia que isto ou aquilo tinha sido pelo São João, já se sabia que era por esta altura do ano.

Pelo São João chegavam os dias compridos cheios de sol, amadureciam as primeiras ameixas, as de São João, e as outras já começavam a luzir; começava o tempo da fartura e das colheitas do trigo e das semilhas. Era o começo do Verão, o tempo em que se esquecia o Inverno e aqueles intermináveis dias cinzentos, com chuva, vento e frio de manhã até à noite. Por isso, toda a gente gostava de festejar o São João.

As tradições eram muitas e variadas.

Havia quem gostasse de enfeitar o terreiro com rebentos verdes de canavieira, galhos de louro verde e de alecrim porque se dizia que estas verduras ficavam benzidas na manhã de São João.

Uns dois dias antes, rapazes e raparigas juntavam-se e pela noite dentro enfeitavam as fontes, com as mesmas verduras e ainda com vasos de flores que iam buscar às casas dos vizinhos sem que estes se dessem de conta.

Na véspera de São João, à noite, saltava-se a fogueira no largo da ponte. Às vezes as labaredas da fogueira tornavam-se demasiado altas e só mesmo alguns rapazes mais destemidos se atreviam a saltá-las; o cheiro a louro e a alecrim espalhava-se por todo o sítio.

Na manhã de São João, havia quem tentasse adivinhar o seu destino tirando sortes. Dizia-se que a água da fonte estava benzida antes do sol nascer; então as raparigas levantavam-se muito cedo e iam à fonte encher a bochecha de água que só deitavam fora ao primeiro rapaz que encontrassem pelo caminho e seria esse o nome do rapaz com quem iriam casar.

Outra sorte era escrever nomes de rapazes em vários papelinhos enrolados que se colocavam debaixo do travesseiro e o que estivesse aberto pela manhã, seria o nome do rapaz com quem iriam casar.

 Também se tirava a sorte partindo um ovo inteiro para dentro de um copo de água e o desenho que o ovo fizesse na água seria o destino. Havia raparigas que viam a imagem de uma igreja e uma noiva com véu e logo deduziam que se iam casar; também havia quem visse um navio e porque tinha o marido ou irmãos embarcados acreditava logo que ia embarcar ao encontro deles.

Eu sempre achei muita graça nestas sortes mas não acreditava nelas; dava-me vontade de rir quando ouvia fulana e sicrana contar a sorte que lhes tinha saído, mas nunca tirei sortes, não me ia levantar de madrugada só para isso. No entanto, gostava muito de saltar a fogueira, lá isso não deixava passar, e ainda me lembro de ter chamuscado as pernas numa fogueira que já estava um pouco grande para o meu tamanho.

Mas o que eu gostava mesmo pelo São João eram as histórias que a mãe contava quando no seu tempo de rapariga ia com a avó e outras raparigas suas vizinhas enfeitar a fonte das Fontes. Segundo dizia a mãe, a avó Silvéria era uma grande entusiasta destas tradições e estava sempre pronta para acompanhar as raparigas nestas andanças, era mesmo a primeira da frente. Pelo meio destas histórias havia sempre muitas peripécias e as cantigas que a mãe alegremente nos cantava:

- “São João adormeceu nas escadinhas do coro, as moças deram com ele e beliscaram-no todo”. E na minha imaginação eu via o santo muito encolhido nos degraus do coro da nossa igreja e as raparigas todas à sua volta a dar-lhe beliscões.

- "Vem o Santo António, depois São João, por fim vem São Pedro para a reinação."

Esta e outras cantigas faziam parte do repertório da mãe que gostava de cantá-las de vez em quando, mesmo não sendo tempo de São João. Inevitavelmente, quando chega a esta altura, eu também me lembro delas e continuo a ouvir a bonita voz da mãe a cantar na minha memória.

Já não salto a fogueira desde esse tempo, mas enquanto Deus me conservar a minha voz, hei-de sempre cantar aquelas cantigas porque são elas que me lembram o tempo do São João.

 

 

 

 

 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

10 de Junho - Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas


REDACÇÕES

Na minha quarta classe da Escola Primária os temas das redacções eram muitas vezes sobre as figuras importantes da História de Portugal. Estas ilustres personagens costumavam aparecer tanto no Livro de Leitura como no livro de História.

Sendo Luís de Camões uma das figuras obrigatoriamente estudadas, não poderia deixar de ser também um título obrigatório nos textos que então escrevíamos. E não deixava de ser interessante porque assim já demonstrávamos o que tínhamos aprendido na História de Portugal.

Desse tempo da escola primária, guardo como uma verdadeira relíquia o meu processo individual, com todas as provas da primeira à quarta classe, aquelas provas que então fazíamos em papel almaço, com a margem dobrada. Deu-mo a minha saudosa professora, D. Fernandina Brazão, já depois de eu ser também professora. Numa dessas provas a redacção tem como tema “Luis de Camões”, o maior poeta da Língua Portuguesa, a quem aprendi a admirar desde então.

 Serei eternamente grata à minha professora por me ter ensinado a dar os primeiros passos no mundo da leitura e da escrita, bem como por me ter levado a descobrir os valores da História de Portugal.

 

Funchal, 10-06-2016