SÁBADO DO ROSÁRIO (séc. XXI)
Foi uma noite do Rosário bonita e o bom tempo veio torná-la
ainda mais agradável.
A igreja toda engalanada em tons de branco e rosa e a banda
de música a tocar no coreto; o adro, o largo e a ponte enfeitados com flores de
variadas cores, qual tapete de riscas onde sobressaem o amarelo, o vermelho e o
azul; as bandeiras amarradas aos mastros, as luzes acesas e as barracas de
quinquilharias com toda a variedade de chapéus que saltam à vista; o povo pela
ponte adentro e o reco-reco das castanholas misturados com as cantigas ao
despique nos brincos que se fazem aqui e ali; o fumo das fogueiras e o cheiro a
espetada no lado das barracas… Em quase tudo uma noite semelhante ao Rosário
dos meus tempos de pequena.
No meio de toda esta atmosfera que me transporta para esse
tempo em que a noite do Rosário era repleta de uma contagiante alegria, dentro
de mim continua latente uma grande nostalgia e aquela pontinha de tristeza que bem
lá do fundo da minha alma, teimosamente vem ao de cima, mas eu vou lá e
escondo-a para não entristecer porque na noite do Rosário o que se quer é alegria. Só que agora é uma alegria diferente.
É uma alegria e satisfação encontrar e falar com pessoas que
só vemos lá de tempos a tempos e sobretudo nestas ocasiões. É um misto de
alegria, tristeza e muita saudade ouvir falar da nossa mãe a alguém que nos viu
nascer e crescer.
E lá está a mãe presente nas palavras da Gertrudes, que eu já
não via há uns bons tempos e com quem já tinha saudades de falar: “ - Ainda
hoje falei da Teresinha das Fontes!...”; e eu já com as lágrimas nos olhos: “- Gertrudes
não me faça chorar!...”
