sábado, 2 de setembro de 2017

Calor de Setembro...


SETEMBRO

É mais um mês de Setembro que chega anunciando o Outono.

O tempo ainda é de calor mas as densas nuvens que frequentemente cobrem o azul do céu libertam aquela humidade irritante e incomodativa que sempre me causou algum desconforto. E é assim desde que me lembro.

Em Setembro, o declínio do sol sempre fez nascer dentro de mim um certo desencanto e até alguma nostalgia; digo mesmo que é o mês de que menos gosto, contrastando com Agosto, o meu preferido, em que o sol brilhando na sua máxima amplitude também me enche a alma de força e alegria.

Setembro faz-me lembrar o tempo em que logo pela manhã bem cedo tínhamos que ir às figueiras das Fontes apanhar os figos que amadureciam quase todos de uma vez, porque bastava um orvalhinho ou uma chuvinha miúda para logo ficarem cheios de bicho e já não se poderem comer.

Era a altura de tirar a folha ao feijão para deixá-lo secar, tarefa que o calor e a humidade tornavam aborrecida porque no meio das varas do feijão as folhas pegavam-se à nossa roupa e às vezes até ao cabelo. Chegávamos a casa todos pegajosos, ainda mais quando vínhamos pela levada do Encontro em que a erva-rija que abundantemente crescia nas beiras das fazendas nos pincelava com melique, e então ficávamos mesmo pegajosos dos pés à cabeça.

Em Setembro chegava o tempo de apanhar as uvas e fazer o vinho. Mesmo sendo uma tarefa leve e até divertida, nem sempre era agradável andar debaixo da vinha com o tempo quente e húmido desta época que só atraía vespas à volta dos cachos de uvas. Ainda mais para os pequenos que embora fosse grande a sua vontade, não tinham direito a um podão para podarem os cachos de uvas e só lhes cabia apanharem os bagos que caíam ao chão.

O mês de Setembro continua húmido e cheio de calor como naquele tempo. Volto a sentir a minha pele quente e pegajosa como se andasse debaixo da vinha, no meio das varas do feijão ou com a erva-rija a me pegar nos braços e nas pernas; o tom dourado do sol sugere-me sempre o mesmo desencanto e nostalgia.

O sentimento mantém-se e ainda não aprendi a gostar do mês de Setembro.  

 

Funchal, 02-09-2017