HORA DE INVERNO
Esta mudança de hora leva-me inevitavelmente para outros tempos
passados em São Vicente.
Não me lembro exactamente em que altura começou esta moda de
atrasar ou adiantar o relógio, mas lembro-me bem que nos primeiros tempos em
que isso aconteceu havia sempre muita confusão, principalmente no domingo de
manhã, por causa da hora da missa.
A hora da missa, a mesma para todos os domingos, era normalmente
anunciada pelo senhor padre no domingo anterior: a missa da manhã às sete e
meia e a missa do dia às dez e meia. Mas no domingo em que havia mudança de
hora, havia sempre quem não percebesse se a missa seria à hora antiga ou se
seria à nova hora. Sobretudo as pessoas idosas e outras menos esclarecidas
faziam uma grande confusão e ficavam completamente baralhadas, o que habitualmente gerava
algumas situações um pouco caricatas.
Quando o relógio atrasava uma hora, havia quem se
levantasse cedo demais e ninguém chegava tarde à igreja; bem pelo contrário,
sempre alguém chegava com uma hora de avanço e aí tinha tempo à vontade para
rezar o terço duas ou três vezes, mais a Salvé-Rainha, as Avé-Marias e orações aos
santos e às almas do Purgatório. Mas quando se adiantava a hora era mais
complicado: havia sempre quem chegasse à igreja com uma hora de atraso, já a
missa ia bem adiantada, o que causava um certo constrangimento porque ninguém
gostava de chegar tarde à missa.
Era sobretudo na missa da manhã que aconteciam estas
situações, a missa dos mais velhos e das mães de família que precisavam
despachar-se cedo das suas obrigações religiosas para depois fazerem o almoço de domingo a
tempo e horas.
À missa do dia iam os mais novos cujas obrigações familiares
eram menos exigentes, não precisavam levantar-se tão cedo e a mudança de hora
não tinha qualquer complicação.
Mas aquele domingo em que mudava a hora era
sempre um domingo diferente para todos.