A COR PRETA
Não gosto da cor preta.
Podem dizer-me que o preto é chique e confere elegância a
quem o usa, que fica bem conjugado com qualquer outra cor, mas nada disso me
convence; nenhum argumento me faz gostar da cor preta.
Para mim o preto é a cor da tristeza, em contraste com o vermelho,
o amarelo e o laranja que são as cores da alegria.
Desconfio que lá no meu subconsciente estará escondido algum
verdadeiro motivo que me leva a não gostar desta cor. Às vezes penso que poderá
ser o facto de ter conhecido as minhas duas avós sempre vestidas de preto por
já serem viúvas; outras vezes, penso no primeiro vestido preto com bolinhas
brancas que a mãe me mandou fazer na costureira quando a avó Serafina faleceu,
tinha eu apenas seis anos; para além da tristeza que senti por ter perdido a
avó ainda tive que vestir aquele vestido do qual não gostava mesmo nada.
Às
vezes também me vem à lembrança as imagens das mulheres e raparigas a tingirem
de preto as suas roupas para fazerem o luto quando algum familiar lhes falecia. Sentia uma grande
tristeza ao ver como aquelas roupas de cores alegres e bonitas, após algumas
horas se tornavam feias e sem qualquer graça.
Mas
de uma coisa eu tenho certeza: nunca gostei de ver a mãe toda vestida de preto,
como aconteceu quando faleceu a sua mãe, a avó Silvéria, em que se vestiu de
luto durante um ano. E diz-me a minha intuição que este deverá ser o principal
motivo pelo qual associo a cor preta ao sentimento de tristeza. A mãe também
não gostava de preto mas sim de cores alegres, no entanto viu-se obrigada a vestir-se
de preto, aumentando ainda mais a escuridão que lhe invadia a alma, só para
obedecer aos cânones do respeito e às tradições dessa altura. Tanto não gostava
de roupa preta que até dizia que assim vestida nem se olhava ao espelho para
não ver a sua tristeza.
Também já por algumas vezes me vesti toda de preto, só mesmo
por obrigação e apenas por alguns dias, mas não gosto de me ver assim vestida. Fico
com a sensação de que envelheci vários anos e que a tristeza tomou conta de
mim. A cor preta tira-me toda a luz do meu rosto, vejo-me feia e sem qualquer
brilho, mas basta colocar à volta do pescoço um lenço em tons de rosa, para me
sentir novamente bonita e cheia de luz.

É muito triste uma vida sem cor e eu gosto de dar cor à minha
vida, pois só assim a minha alma se sente verdadeiramente feliz.