O RÁDIO DE PILHAS
O rádio transístor de capa preta toda aos furinhos era de
Pedro. Foi-lhe oferecido pela tia numa das suas frequentes demonstrações do carinho
e estima que nutria pelo sobrinho mais velho. Tinha o seu lugar fixo em cima da
mesa da cozinha, no lugar da cabeceira que ficava perto da janela e onde só
Pedro e mais ninguém se sentava às refeições. O lugar da outra cabeceira era
inquestionavelmente o lugar do pai.
O rádio de Pedro funcionava a pilhas, mas como não apanhava
bem a frequência foi preciso arranjar-lhe uma antena, presa numa vara alta fora
da janela, o fio enrolado no próprio aparelho e ligado na tomada da cozinha,
tudo engenhocas dele que até deram bom resultado.
Este rádio fez parte da nossa vida de pequenos durante alguns
anos e era através dele que ouvíamos as cantigas que estavam em voga nesse
tempo.
Quando Pedro chegava a casa vindo do trabalho, a primeira
coisa que fazia era ligar o rádio.
Durante a tarde, quando estávamos por casa, era logo
sintonizado o Posto Emissor do Funchal (Aqui Funchal, Posto Emissor de Radiodifusão,
CSB 91, Onda Média!...) para ouvirmos a Música Pedida. Havia cantigas que eram
pedidas diariamente e nós já ficávamos à espera que elas surgissem para também as
cantarmos em simultâneo, pois de tanto as escutarmos até já as sabíamos de cor.
O mesmo acontecia com as publicidades que nós também achávamos graça e
repetíamo-las muitas vezes nas nossas brincadeiras. Lembro-me sempre daquela
publicidade do Império das Louças, na época de Natal e também aquela da agência
de viagens que informava os passageiros da data de saída do barco com destino a
Miami, mas antes parava em La Guaira, na Venezuela.
À noite já não havia música pedida mas havia um programa
humorístico muito engraçado que nos fazia soltar gargalhadas com as peripécias
de um tal “João do Cabeço”, cujas piadas seriam muitas vezes replicadas pela
mãe por qualquer coisa que viesse a propósito.
Mesmo depois de já estarmos deitados e de luzes apagadas,
Pedro continuava com o rádio ligado, um pouco mais baixo para o pai e a mãe não
ouvirem no quarto deles, mas eu ouvia muito bem porque o nosso quarto era mesmo
ao lado. A essa hora ele ouvia as notícias na Emissora Nacional e o
inesquecível “Quando o telefone toca” que também eu gostava muito de ouvir.
Este gosto de ouvir rádio não se perdeu com o tempo nem mesmo
com as modernas tecnologias. No meu balcão da cozinha há um lugarzinho reservado
para o meu rádio. Desde que esteja na cozinha tenho-o sempre ligado e não
prescindo da sua companhia ao pequeno-almoço. E é sempre uma boa companhia!...
Substitui o rádio pela televisão na cozinha, mas, pela manhã, quando estou a tratar da higiene pessoal não prescindo da rádio para me dar as notícias...boas ou más!!!
ResponderEliminarBoa semana!