sábado, 7 de maio de 2016

Naquele lado (nos Barros)...


VAMOS AOS BARROS

O sítio dos Barros sempre fez parte das nossas vivências.

Aquele lado, como sempre ouvíamos, entrava muitas vezes nas histórias que a mãe nos contava e, pelo modo carinhoso como de lá falava, sentíamos que ocupava um lugar especial no seu coração.

Nos Barros nasceu e cresceu a nossa avó materna, a avó Silvéria, e lá vivia toda a família desse lado materno. Para além dos irmãos da avó, o tio António, a tia Segunda, a tia Joana que estava embarcada na América e a tia Maria Luísa, também havia muitos primos e primas que a mãe e a tia conheciam muito bem e a quem devotavam grande estima.

Muitas vezes ouvimos a mãe contar, de quando ainda era pequena, as suas idas aos Barros, a casa da sua avó Antónia, sobretudo na primeira oitava do Natal; a mãe lembrava com saudade que a avó oferecia um brindeiro a cada neto e depois trazia uma joeira cheia de laranjas e distribuía também por todos. Também sabíamos, porque ouvimos vezes sem conta a mãe e a tia contarem, que o nosso tio Agostinho fora criado nos Barros em casa da avó.  
Tia Maria Segunda, avó Silvéria, tia Maria Luísa e tia Joana


De vez em quando a mãe ia àquele lado visitar as tias e o tio, e quando a tia vinha de São Jorge também costumava lá ir fazer a sua visita. A mãe sempre arranjava um motivo para ir aos Barros, às vezes porque tinha os novelos de retalhos já prontos para tecer tapetes e lá tinha uma prima que era tecedeira, ou então porque queria ver a tia Joana que tinha vindo da América.


Ainda me lembro bem de acompanhar a mãe ou a tia quando iam àquele lado. Nesse tempo não havia estrada por isso tínhamos que ir a pé; íamos pelo Lombo de Baixo, descíamos o caminho da Terça por entre os eucaliptos que logo no início nos tapavam a vista e os campos cultivados que se iam sucedendo, e atravessávamos a ribeira lá em baixo no Foro; ali havia umas tábuas de madeira a fazer de ponte, mas nem sempre lá estavam porque quando a ribeira enchia levava tudo por lá abaixo, então tínhamos que passar para o outro lado saltando de pedra em pedra.

Assim que chegávamos ao início do caminho dos Barros começava a “peregrinação”. Ali mesmo morava uma prima da avó, e a mãe costumava entrar para cumprimentá-la. Logo depois, já era a casa do tio António e quase encostado, morava o seu primo Afonso; andando mais um bocado a mãe encontrava ainda outras primas, para então chegar a casa da tia Maria Luísa. Também fazia parte do roteiro a visita ao primo António e a uma tia já velhinha que morava lá perto; e não podia faltar a visita à tia Segunda que vivia nos Lameiros e ao menos um cumprimento e umas simples palavras às sempre estimadas primas.

Assim se passavam as horas. O tempo não chegava para todas as visitas e o regresso tinha que ser ainda com dia porque era perigoso atravessar a ribeira de noite e subir a Terça às escuras, pois não havia luz.

Já depois de um pouco mais crescidos, no dia do Espírito Santo dos Barros, mesmo que não pudesse ir e para manter a tradição, a mãe costumava mandar-nos a casa dos tios, e nós lá íamos muito contentes. Fazíamos sempre o mesmo caminho e íamos a casa do tio António e da tia Maria Luísa. Não sei como a mãe nos deixava ir assim sozinhos, mas a verdade é que íamos, depois dos avisos para termos muito cuidado ao atravessar a ribeira. Ao fim da tarde regressávamos sãos e salvos e a tradição continuava, ainda não se havia perdido.

São boas lembranças que o tempo não deixa esquecer!...

 
  

 

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