À ESPERA DO MENINO JESUS
Como toda a criança pequena eu esperava ansiosa a chegada da
Festa. Ao longo de todo o ano ia contando os meses, as semanas e os dias que
faltavam para o dia vinte e cinco de Dezembro que parecia nunca mais chegar.
A Festa era o tempo da alegria e das cantigas ao Deus Menino,
das corridas ao carteiro à espera dos postais do Brasil e da Venezuela, dos foguetes
a estalar de madrugada a anunciar as Missas do Parto, do pão de rosquilha e dos
bolos de noiva a cheirar dentro da cozinha, das laranjas e dos peros rosados
para pôr na lapinha, dos estalos das bombas que os rapazes rebentavam no largo
da ponte. Era a Festa do Menino Jesus que ia descer pela chaminé e deixar um
presente no sapatinho que na Noite de Natal os mais pequenos colocavam na lareira.
Eu acreditava ser mesmo verdade que o Menino Jesus descia
pela chaminé, mas sempre achei um pouco estranho que isso pudesse acontecer. Muitas
vezes perguntei à mãe como era possível o Menino Jesus descer pela nossa
chaminé sem magoar os seus delicados pezinhos descalços e sem sujar o seu
vestidinho branco na ferrugem, embora a chaminé tivesse sido limpa. A mãe
arranjava sempre uma explicação e lá me ia convencendo, até que um dia descobri
a verdade.
Lembro-me bem que já andava na primeira classe. Curiosa como
sempre fui, abri o vestuário da mãe porque achava que lá dentro havia alguma
coisa escondida. Não foi preciso procurar muito e logo encontrei, lá no
cantinho do vestuário, uma bonita pasta azul que só poderia ser para eu levar
para a escola. Com certeza devo ter sentido o meu coração a bater acelerado
perante aquela descoberta, mas não contei a ninguém o sucedido.
Quando na manhã do dia de Festa, fui à lareira e encontrei em
cima do meu sapato a mesma pasta que eu já tinha visto, cheguei à conclusão que
afinal o Menino Jesus não descia pela chaminé. Contei à mãe o que já sabia e
não lhe dei descanso enquanto não me disse a verdade sobre quem me tinha
trazido aquele presente. Então vim a saber que o meu Menino Jesus havia sido a
minha madrinha que me tinha trazido do Funchal aquela bonita pasta para ser
colocada no meu sapato na Noite de Natal.
A partir desse Natal, não foi mais preciso pôr o sapato na
lareira porque já sabia que quem me trazia um presente era a tia e a madrinha,
e como sempre dizia a mãe, com a ajuda do Menino Jesus.
Funchal, 09-12-2016
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