sábado, 10 de dezembro de 2016

O sapatinho na lareira


À ESPERA DO MENINO JESUS

Como toda a criança pequena eu esperava ansiosa a chegada da Festa. Ao longo de todo o ano ia contando os meses, as semanas e os dias que faltavam para o dia vinte e cinco de Dezembro que parecia nunca mais chegar.

A Festa era o tempo da alegria e das cantigas ao Deus Menino, das corridas ao carteiro à espera dos postais do Brasil e da Venezuela, dos foguetes a estalar de madrugada a anunciar as Missas do Parto, do pão de rosquilha e dos bolos de noiva a cheirar dentro da cozinha, das laranjas e dos peros rosados para pôr na lapinha, dos estalos das bombas que os rapazes rebentavam no largo da ponte. Era a Festa do Menino Jesus que ia descer pela chaminé e deixar um presente no sapatinho que na Noite de Natal os mais pequenos colocavam na lareira.

Eu acreditava ser mesmo verdade que o Menino Jesus descia pela chaminé, mas sempre achei um pouco estranho que isso pudesse acontecer. Muitas vezes perguntei à mãe como era possível o Menino Jesus descer pela nossa chaminé sem magoar os seus delicados pezinhos descalços e sem sujar o seu vestidinho branco na ferrugem, embora a chaminé tivesse sido limpa. A mãe arranjava sempre uma explicação e lá me ia convencendo, até que um dia descobri a verdade.

Lembro-me bem que já andava na primeira classe. Curiosa como sempre fui, abri o vestuário da mãe porque achava que lá dentro havia alguma coisa escondida. Não foi preciso procurar muito e logo encontrei, lá no cantinho do vestuário, uma bonita pasta azul que só poderia ser para eu levar para a escola. Com certeza devo ter sentido o meu coração a bater acelerado perante aquela descoberta, mas não contei a ninguém o sucedido.

Quando na manhã do dia de Festa, fui à lareira e encontrei em cima do meu sapato a mesma pasta que eu já tinha visto, cheguei à conclusão que afinal o Menino Jesus não descia pela chaminé. Contei à mãe o que já sabia e não lhe dei descanso enquanto não me disse a verdade sobre quem me tinha trazido aquele presente. Então vim a saber que o meu Menino Jesus havia sido a minha madrinha que me tinha trazido do Funchal aquela bonita pasta para ser colocada no meu sapato na Noite de Natal.

A partir desse Natal, não foi mais preciso pôr o sapato na lareira porque já sabia que quem me trazia um presente era a tia e a madrinha, e como sempre dizia a mãe, com a ajuda do Menino Jesus.

 

Funchal, 09-12-2016    

    

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