A ESTRELA DO NATAL
A mais importante figura do nosso
Natal era o Menino Jesus, porque nesse tempo o Pai Natal ainda não tinha
chegado à nossa casa e talvez nunca lá tenha chegado a entrar.
Tudo era feito em louvor do Menino Jesus e para tudo se pedia
a Sua ajuda.
O pão da Festa era amassado em louvor do Deus Menino e a Ele
se pedia que o fizesse crescer depois de amassado, tendido e posto a levedar,
antes de ser levado para dentro do forno; as searinhas também eram em honra do
Menino Jesus para que abençoasse as novidades e nos ajudasse a ter fartura de
trigo no ano seguinte e o mesmo se dizia dos peros rosados ou os de focinho de
rato e das laranjas que em Seu louvor se colocavam na lapinha.
Mas a estrela do nosso Natal era sem qualquer dúvida a nossa
mãe, embora nós, ainda pequenos, não nos apercebêssemos disso.
A mãe vivia intensamente o Natal, valorizando todas as
tradições a ele associadas, desde as Missas do Parto ao verdadeiro significado
do Dia de Festa, passando pelas romarias e cânticos da Noite de Natal.
A partir do Advento, quando as noites já eram bem longas e o
serão depois da ceia ainda dava para gastar umas linhas no bordado, a mãe ia
sempre buscar histórias e cantigas da Festa do seu tempo de mocidade e nós, à
sua roda, ouvíamos embevecidos, rindo e fazendo perguntas. Deliciávamo-nos com
as peripécias da Festa em casa do avô das Fontes; imaginávamos aquela romaria
da Noite de Natal em que um grupo de rapazes levou uma barquinha pela igreja
adentro até ao altar, com um melrinho a esvoaçar à frente, amarrado por um fio;
víamos a mãe jovem, de mão dada com a nossa prima Virgília, ainda criança, a
cantar ao pé do Menino Jesus (A pastora pequenina, ainda não sabe cantar, foi
pedir à sua tia, para lhe vir ajudar!…) e junto com a mãe cantávamos as
cantigas do seu tempo que nos ia ensinando.
Desde sempre ouvimos a mãe dizer-nos que o Natal era a festa
das crianças, porque o Menino Jesus nasceu e fez-se criança como nós, mas era sobretudo
a Festa da Família, e por isso não poderíamos esquecer todos os nossos
familiares que já haviam partido.
Assim aprendemos e assim continuamos a sentir o Natal,
lembrando a Festa da nossa infância com muita saudade e nostalgia, mas
agradecendo ao Deus Menino por nos ter dado como exemplo de vida, a nossa mãe.
Sem comentários:
Enviar um comentário