O MEU VÉU DE TULE
Aquele era o tempo em que as mulheres, quando iam à missa, não
podiam entrar na igreja com a cabeça descoberta. Era obrigatório cobrir os
cabelos com um véu ou com um lenço. O véu ou o lenço era um acessório que fazia
parte da roupa da missa.
As raparigas solteiras cobriam a cabeça com o seu véu branco
de renda bordada, já as mulheres casadas usavam-no em tom cru e às vezes cinza
prateado, mas usavam-no preto se estivessem de luto e para acompanhar os
enterros, bem como no Dia das Almas e na Missa da Paixão na Sexta-feira Santa.
Depois de uma certa idade, com a maturidade dos anos, as
mulheres gostavam de ir à missa de lenço na cabeça com as pontas atadas debaixo
do queixo, e se fosse mulher viúva o lenço era preto, como não poderia deixar de
ser.
Ainda pequena também tive o meu véu. Foi o véu da minha
Primeira Comunhão, que não era de coroa como algumas pequenas usavam, mas em
tudo idêntico ao véu das mulheres mais velhas.
O meu véu era branco, de tule e com florinhas e lacinhos bordados em toda
a volta. Quando ia à missa ao domingo levava-o sempre e isso fazia-me sentir grande e importante como as outras raparigas, mulheres já feitas.
Parece que ainda estou a ver-me na igreja, sentada no banco
da frente, de véu branco na cabeça e de livro aberto na mão, o inesquecível livrinho
de capa azul que o Padre Sousa comprou para os pequenos da catequese aprenderem
as orações e acompanharem a missa adequadamente.
Não me lembro exactamente em que altura deixou de ser
obrigatório cobrir a cabeça para assistir à missa, mas sei que aquele foi o
único véu que tive.
Depois de um pouco mais crescida as raparigas já iam à missa “em
cabelo”, embora algumas mulheres mais velhas continuassem a usar o véu ou o
lenço. Assim acontecia com a mãe que sempre teve o seu véu, e embora só em
determinados momentos o pusesse na cabeça, não dispensava um bonito lenço
quando ia à missa. Quase sempre levava-o sobre os ombros e só o colocava na cabeça
com as pontas atadas debaixo do queixo se houvesse necessidade de se proteger
do frio, nas agrestes manhãs de inverno em que subir a Rochinha nos enregelava
até as orelhas.
E a moda do véu foi e não voltou!...
Funchal, 13-01-2018
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