sábado, 13 de janeiro de 2018

A moda do véu...


O MEU VÉU DE TULE

Aquele era o tempo em que as mulheres, quando iam à missa, não podiam entrar na igreja com a cabeça descoberta. Era obrigatório cobrir os cabelos com um véu ou com um lenço. O véu ou o lenço era um acessório que fazia parte da roupa da missa.

As raparigas solteiras cobriam a cabeça com o seu véu branco de renda bordada, já as mulheres casadas usavam-no em tom cru e às vezes cinza prateado, mas usavam-no preto se estivessem de luto e para acompanhar os enterros, bem como no Dia das Almas e na Missa da Paixão na Sexta-feira Santa.

Depois de uma certa idade, com a maturidade dos anos, as mulheres gostavam de ir à missa de lenço na cabeça com as pontas atadas debaixo do queixo, e se fosse mulher viúva o lenço era preto, como não poderia deixar de ser.

Ainda pequena também tive o meu véu. Foi o véu da minha Primeira Comunhão, que não era de coroa como algumas pequenas usavam, mas em tudo idêntico ao véu das mulheres mais velhas.

O meu véu era branco, de tule e com florinhas e lacinhos bordados em toda a volta. Quando ia à missa ao domingo levava-o sempre e isso fazia-me sentir grande e importante como as outras raparigas, mulheres já feitas.

Parece que ainda estou a ver-me na igreja, sentada no banco da frente, de véu branco na cabeça e de livro aberto na mão, o inesquecível livrinho de capa azul que o Padre Sousa comprou para os pequenos da catequese aprenderem as orações e acompanharem a missa adequadamente.

Não me lembro exactamente em que altura deixou de ser obrigatório cobrir a cabeça para assistir à missa, mas sei que aquele foi o único véu que tive.

Depois de um pouco mais crescida as raparigas já iam à missa “em cabelo”, embora algumas mulheres mais velhas continuassem a usar o véu ou o lenço. Assim acontecia com a mãe que sempre teve o seu véu, e embora só em determinados momentos o pusesse na cabeça, não dispensava um bonito lenço quando ia à missa. Quase sempre levava-o sobre os ombros e só o colocava na cabeça com as pontas atadas debaixo do queixo se houvesse necessidade de se proteger do frio, nas agrestes manhãs de inverno em que subir a Rochinha nos enregelava até as orelhas.

E a moda do véu foi e não voltou!...

 

Funchal, 13-01-2018

 

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