quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Sopa de couve


A CULPA FOI DO FEIJÃO SECO
            Enquanto faço o jantar vou-me lembrando da mãe. Naturalmente que por qualquer motivo e a qualquer hora do dia ou da noite me lembro dela, mas hoje lembrei-me sobretudo por causa do meu jantar que já saíu um bocado tarde.

Nos meus telefonemas diários que mais ou menos a esta hora costumava fazer para a mãe, entre outras coisas falávamos do jantar. Eu gostava de saber o que a mãe tinha feito para o jantar, se já tinha jantado e normalmente por esta hora a mãe já se tinha despachado. Às vezes era a mãe que telefonava para saber de nós e muitas vezes acontecia que o jantar ainda não estivesse pronto. Então a mãe logo dizia que o nosso jantar era como os dos Serradores.

Os Serradores eram uma família oriunda de Santo António do Funchal que tinha ido viver para São Vicente. Tinham hábitos alimentares diferentes das gentes de lá do sítio e pelo que a mãe dizia, quando já toda a vizinhança tinha ceado, na casa deles ainda tinham ao lume a panela do milho, por isso ceavam sempre tarde, quando o resto dos vizinhos já estavam amanhados para se deitarem.

Hoje o meu jantar foi mesmo como a ceia dos Serradores, mas a culpa foi do feijão seco que demorou a cozer. Uma sopinha de couve como a que a mãe fazia tem que levar feijão manteiga, à moda da nossa casa, senão perde a graça. E já está cozida mas tenho que deixá-la compor, para então saboreá-la pensando na mãe e nas histórias que sempre tinha para cada ocasião.

 

Funchal, 25-01-2018

 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário