A CULPA FOI DO FEIJÃO SECO
Enquanto
faço o jantar vou-me lembrando da mãe. Naturalmente que por qualquer motivo e a
qualquer hora do dia ou da noite me lembro dela, mas hoje lembrei-me sobretudo
por causa do meu jantar que já saíu um bocado tarde.
Nos meus telefonemas diários que mais ou menos a esta hora costumava
fazer para a mãe, entre outras coisas falávamos do jantar. Eu gostava de saber
o que a mãe tinha feito para o jantar, se já tinha jantado e normalmente por
esta hora a mãe já se tinha despachado. Às vezes era a mãe que telefonava para
saber de nós e muitas vezes acontecia que o jantar ainda não estivesse pronto. Então
a mãe logo dizia que o nosso jantar era como os dos Serradores.
Os Serradores eram uma família oriunda de Santo António do
Funchal que tinha ido viver para São Vicente. Tinham hábitos alimentares diferentes
das gentes de lá do sítio e pelo que a mãe dizia, quando já toda a vizinhança
tinha ceado, na casa deles ainda tinham ao lume a panela do milho, por isso
ceavam sempre tarde, quando o resto dos vizinhos já estavam amanhados para se
deitarem.
Hoje o meu jantar foi mesmo como a ceia dos Serradores, mas a
culpa foi do feijão seco que demorou a cozer. Uma sopinha de couve como a que a
mãe fazia tem que levar feijão manteiga, à moda da nossa casa, senão perde a
graça. E já está cozida mas tenho que deixá-la compor, para então saboreá-la
pensando na mãe e nas histórias que sempre tinha para cada ocasião.
Funchal, 25-01-2018
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