PREVISÃO DO TEMPO
As previsões do tempo não chegavam a todos ou então poucos se
guiavam por elas. Avisos e alertas meteorológicos ainda não tinham entrado na
moda; ciclones e furacões só aconteciam por longínquas paragens, lugares
desconhecidos dos quais só sabiam o nome aqueles que tinham tido a sorte de ter
andado na escola e aprendido um pouco de geografia, guardando na memória os
nomes que tinham lido no planisfério. Mas o povo tinha a sua sabedoria, sabia
ler os sinais que indicavam chuva, vento ou bom tempo, tudo em função dos
trabalhos agrícolas, aproveitando as melhores condições climatéricas para
semear, plantar ou colher “a novidade”.
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Vargem de Cima 2019 |
Nós acreditávamos e levávamos a sério este saber do pai. De
modo algum, nos passava pela cabeça questionar, mas muitas vezes me perguntava
como era que o pai sabia aquelas coisas e acertava sempre no tempo que iria
fazer. E era mesmo assim que acontecia.
Quando o pai olhava para o Pico das Barbas de Bode e via o
cume tapado com uma nuvem, logo dizia que vinha chuva. Às vezes dizia que o
tempo se tinha metido lá em baixo no Calhau e que não tardava a chover. Mas
quando dizia que o tempo estava na Bica da Cana, já se sabia que haveria de
chover dias a fio.
Dia e noite a chuva caía com força e não dava tréguas, o
tempo não clareava. De repente a ribeira vinha cheia, com a água quase a saltar
por cima da ponte, com um enorme barulho que mesmo com as janelas fechadas
ouvíamos na nossa casa. Olhávamos e víamos lá na serra a grande queda de água
branca como algodão, e conseguíamos ver também a queda de água do Encontro e bem
mais perto a queda de água do Poço da Carne, a transbordar por todo o lado. A ribeira
enchia, levava consigo tudo o que encontrava nas suas margens e deixava tudo
lavado e limpo.
Quando ouvíamos o pai dizer que o tempo estava de sul era
certo e sabido que traria consigo chuva e vento forte.
O vento de sul não era para brincadeiras: zunia nos galhos
dos pinheiros que até dava medo, arrancava as varas do feijão e levava pelo ar
as telhas de canudo das casas mais antigas ou as folhas de zinco que tapavam os
galinheiros; às vezes até as cumeeiras dos palheiros de palha iam pelo ar. Quase
sempre faltava a luz elétrica mas era logo substituída pelo candeeiro a
petróleo sempre pronto para estas ocasiões. E tinha mesmo muita graça cear à luz
do candeeiro, enquanto nos ríamos divertidos com as sombras que fazíamos nas
paredes da cozinha.
Era assim que acontecia no tempo em que não havia avisos
meteorológicos nem tão pouco televisão onde pudéssemos ver as imagens de
satélite com o movimento da chuva ou do vento. E quem, nesse tempo, iria supor ou
imaginar que algum dia isso fosse possível?!...
Funchal, 14-10-2018