MANHÃ DE DOMINGO DO ROSÁRIO
É sempre uma manhã diferente esta manhã de
Domingo do Rosário.
No meu tempo de pequena, mal nos levantávamos da cama,
queríamos logo mostrar uns aos outros os “tertilhos” que na véspera tínhamos
comprado na barraca de quinquilharias com os cinco escudos que a mãe ou a tia
nos tinham dado para gastar na festa. Mostravam-se os anéis de dois mil e
quinhentos com a pedra azul ou vermelha e os relógios com bracelete de plástico, comparavam-se as bolas de farelo sobre
qual delas seria a mais bonita (às vezes, para nosso grande desgosto, o
elástico rebentava mal começávamos a brincar com ela, e depois por mais que se
quisesse dar um jeito já não havia remédio!..); também se apresentava a boneca
pequenina com braços articulados presos por um elástico, com a qual nos iríamos
entreter a fazer vestidos que quase nunca lhe serviam e ainda os reco-recos
coloridos cujo som irritante nos ensurdeciam os ouvidos… Tudo coisas pequenas
que se podiam comprar com os tais cinco escudos.
Actualmente, já bem adulta e a caminho da segunda juventude,
continuo a sentir esta manhã de Domingo do Rosário de uma maneira diferente das
outras manhãs de domingo.
Na minha cozinha, sentada a tomar o pequeno-almoço, passo em
revista a noite deste sábado do Rosário e as emoções que ela me traz. Apesar de
já um pouco diferente da noite do Rosário do meu tempo de pequena, coisas há
que continuam semelhantes, pelo menos no modo como as sinto.
Agora sou eu que (tal como costumava fazer a mãe!...) vou ao
bazar da igreja falar com as raparigas que lá estão a vender (raparigas já bem
mais velhas do que eu!!!...) e aproveito para comprar uns bolos de noiva.
O vinho com laranjada numa das barracas tradicionais, aquelas
onde se encontra a carne de vaca dependurada à espera que alguém a leve para
uma espetada, continua a fazer lembrar a
festa e estava muito bom, fazia lembrar o nosso vinho de casa!
A tradição é para manter como igualmente se mantém o grande
prazer de encontrar pessoas que só vemos mesmo nesta noite do Rosário. E é
sempre com um misto de orgulho e muita saudade que ouvimos alguém falar da
nossa mãe, reconhecendo a excelente pessoa que era.
“_ A sua mãe era uma senhora com uma grande educação!...”
Ouvir estas palavras
encheu-me a alma e fez-me dar graças a Deus por ter-me dado a minha mãe.
Mas a maior saudade veio numa simples fatia de bolo doce com
manteiga. O bolo de noiva que comprei no bazar do Loural, amassado pela minha
prima Alzira, cuja receita é a da nossa avó Serafina e é exactamente a mesma
receita que a mãe usava quando tão primorosamente e com perfeição fazia os
bolos de noiva na nossa casa. Uma fatia de bolo doce com manteiga e uma chávena
de café, enquanto na rádio passava uns fados na incomparável voz da eterna
Amália, tornou este momento particularmente nostálgico e não pude evitar que as
lágrimas me saltassem dos olhos e por uns minutos me viessem fazer companhia.
E é isto a saudade, quando passados muitos anos a nossa alma
continua a sentir a emoção dos momentos felizes e inesquecíveis em que outras
almas a ajudaram a crescer!...
Felizes somos nós que temos para recordar estes momentos que
nos fazem sentir saudade!...
Funchal, 07-10-2018
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