AS OITAVAS DA
FESTA
Naquele tempo as oitavas da festa eram dias de folia e muita brincadeira.
Por serem dias santos era obrigatório ir à Missa mas depois havia muito tempo livre e ao fim da tarde o largo da ponte enchia-se de gente; homens e mulheres, rapazes e raparigas, grandes e pequenos brincavam e cantavam em animados convívios.
No assento encostado à venda do padrinho juntavam-se os homens e rapazes mais velhos, às vezes a jogar à bisca ou à milhada mas muitas vezes também ao jogo do farelo. Muitos metiam a cabeça no cocho (podia ser um casaco aberto que alguém segurava para tapar os olhos do sacrificado) e ali ficavam por um bom bocado com a palma da mão virada para cima, levando palmadas ora deste ora daquele, algumas tão fortes que só de ouvir o estalo doía, até acertarem naquele que lhes tinha dado a última palmada e saírem dali com as mãos a arder como brasa. Às vezes sempre havia alguma rapariga mais arrojada que entrava no jogo, mas eram poucas as que se atreviam porque as palmadas não eram nada suaves.
Um pouco mais abaixo juntavam-se as mulheres e raparigas com os mais pequenos em jogos e cantigas de roda.
Jogava-se ao jogo do lenço, ao jogo do anel e ao pisca-pisca ou jogo dos namorados: o jogo era feito aos pares e um sozinho no meio da roda piscava o olho a alguém e tentava roubá-lo ao outro para ser o seu par. Assim as raparigas e rapazes mais velhos já iam deitando o olho e namorando aquele ou aquela que lhes interessava.
Em roda
cantava-se:
Borboleta
branca que se atira ao ar
A
menina Ana não se quer casar
(…)
Muito chorei eu no domingo à tarde
Aqui
está meu lenço que fala a verdade
(…)
A
Teresinha de Jesus
Deu
uma queda foi ao chão
(…)
Ó
amendoeira que é da tua rama
Por
causa de ti tenho o meu amor em chama
(…)
Lá
vai o paspalhão pra o meio
Para
a roda não andar
(…).
As rodas
enchiam o largo da ponte e as cantorias ouviam-se por todo o sítio. Eram momentos
de alegria e são convívio em que se ocupava o tempo livre daqueles dias, porque
nesse tempo não havia televisão e ainda estava longe de chegar aos nossos lados.
E era
assim que a gente se divertia e passava os dias da Festa.
Funchal,
27-12-2021