FLORES E MAIS FLORES
A nossa casa nunca teve um jardim bonito e organizado como
outras casas tinham. Ainda em tempo da avó Serafina tínhamos uma parreira de
uvas brancas que fazia sombra mesmo por cima do terreiro de pedra calçada.
Encostada à casa tínhamos a latada de vinha que se estendia até lá adiante, à
beira do corgo. Na beira da vinha tínhamos um grande pé de hastes de São José
que dava flores brancas desde a Semana Santa até ao Espírito Santo e tínhamos
também uma roseira brava que dava umas rosas cor-de-rosa, com muitas pétalas todas
fechadinhas que parecia que nunca chegavam a abrir completamente.
Quando o pai reconstruiu a nossa casa, no ano de mil
novecentos e setenta, construiu um canteiro, ao longo de toda a beira do
terreiro, mesmo por cima do assento, e ali se plantava alguns gladíolos, uns
cor-de-vinho, outros cor-de-rosa ou alaranjados. Também se plantava na beira da vinha algumas
flores, mais uns gladíolos, uns craveiros ou uns pés de junquilhos, mas quase
sempre a sombra não deixava que florescessem muito.
Eu gostava de ver o jardim da prima, os canteiros divididos
com várias espécies de flores, em que no Verão sobressaíam as purezas brancas e
os não-me-deixes de várias cores; também gostava de ver o jardim da Paixão que
dava muitos amores-perfeitos, roxos e amarelos, gerberas vermelhas e cor-de-rosa,
cravos brancos e cor-de-rosa cujo perfume nos invadia quando lá passávamos a
caminho da Fontinha ou do Lombo. Mas estes dois jardins apanhavam sol, não
tinham vinha a fazer-lhes sombra, por isso ficavam sempre bonitos na Primavera
e no Verão.

Jardim nunca tivemos, mas aquele pé de hastes de São José, que já
lá estava desde o tempo da avó, continuou a dar flor ao longo dos anos, e dessas
flores a mãe fazia o ramo que se colocava na mesa da sala, no dia da visita do
Espírito Santo. E ainda lá continua, florindo a cada Primavera, as flores da
nossa mãe, as hastes de São José.