A FELICIDADE
Andava eu no antigo terceiro ano do liceu, no colégio Externato São
Vicente.
A disciplina de Português era uma das minhas preferidas e eu
correspondia com facilidade a qualquer trabalho que nas aulas fosse proposto;
mas certo dia, senti-me um bocado preocupada porque não sabia realmente como
sozinha iria resolver o trabalho de casa destinado para esse dia. O Padre
Ernesto, meu professor de Português, com toda a sua filosofia, mandou-nos fazer
uma composição literária cujo tema era “A
felicidade”.
Depois de dar voltas e voltas à minha cabeça, a pensar o que
iria escrever sobre o tema, depois de algumas frases escritas e logo de seguida
riscadas porque o que havia escrito não me satisfazia, manifestei a minha
preocupação à mãe, a ver se me dava alguma ideia. A mãe, que sempre gostava de ajudar
mas tinha mais do que fazer do que pôr-se a pensar no que seria a felicidade,
aconselhou-me a que fosse pedir ajuda à minha madrinha Ângela que era
professora e com certeza me iria dar algumas ideias.
E assim aconteceu. Com as sugestões que a madrinha me foi
dando lá fiz a composição literária, tal como o Padre Ernesto me tinha mandado e
assim me livrei de ter que passar pela vergonha de entrar na aula com o trabalho
de casa por fazer.
Olhando para trás no tempo, para os meus treze anos que tinha
nessa altura, dou por mim a pensar que realmente nessa época seriam bem poucas as
pessoas que na verdade se preocupassem em saber o que seria a felicidade. A felicidade
estava contida de forma tão natural na simplicidade da vida diária que nem
sugeria que fosse questionada. E muito menos os pequenos como eu, alguma vez se
perguntaram sobre o que seria a felicidade, daí também a minha dificuldade em
escrever sobre o tema.
Em nenhum momento do meu tempo de pequena me veio ao pensamento
essa questão de ter ou não ter felicidade. Para mim, todos da nossa família
éramos felizes porque estávamos todos juntos, pai, mãe e irmãos; as
preocupações faziam parte do mundo dos mais velhos e não do nosso que ainda
éramos pequenos. E foi essa a maior felicidade da nossa vida, o estarmos todos
juntos na nossa inocência e ingenuidade, sempre amparados pelos braços dos
nossos pais.
Funchal, 22-01-2017
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