DIA DE REIS
O Dia de Reis foi sempre um daqueles dias assinalados
na nossa casa. No Dia de Reis nasceu Agostinho e por coincidência, alguns anos
mais tarde, também Teresa foi baptizada neste dia. Assim sendo, e por ser dia
de anos, sempre foi revestido por um certo ar de festa, não faltando um galo para o almoço e uma amassadura de pão.
Nesse
tempo o Dia de Reis era dia santo festejado e toda a gente ia à missa celebrar a
Epifania. Era o final da Festa.
Na véspera, pela noite dentro, grupos de rapazes iam cantar
os reis pelo sítio, às portas dos vizinhos, quando estes já estavam a dormir, e
a nossa casa era ponto de paragem obrigatória.
A mãe levava muito a sério esta tradição do cantar dos reis;
gostava de tudo o que envolvia música, cantigas e folia, e estimava de verdade
quando os rapazes vinham cantar à nossa porta. Sabendo que era certa esta
visita, antes de se ir deitar já deixava acesa a luz da rua e a mesa pronta à
espera deles: o jarro do vinho, uma rosquilha de pão-de-casa, o bolo preto e
as broas de mel.
Já muito tarde da noite éramos acordados por vozes a cantar no nosso terreiro:
- Abri as portas/ afastai os bancos/ que aqui vem três reises/
de cabelos brancos.
- Abri as portas/ afastai as mesas/ que aqui vem três reises/
de canelas tesas.
- E vós bem sabias/ e vós bem sabeis/ que é no dia d'hoje/que
se canta os reis!
- Eu venho cantar os reis/ a casa desta vizinha/ não tem nada
que me dê/ deixe-me ver a lapinha!
A mãe
deixava-os terminar a cantiga e só então abria a porta e convidava-os a entrar. Com toda
aquela cantoria, nós também acordávamos e mesmo cheios de sono corríamos para a
cozinha, alvoroçados e cheios de curiosidade para ver quem tinha vindo cantar os Reis à nossa
casa.
E lá ia rodando o jarro do vinho!...
Memórias
de tempos idos, histórias da nossa vida!...
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