VISITA ÀS LAPINHAS
Depois de passarmos todo o Dia de Festa em casa, sem poder ir
a nenhum lado, era um alívio e uma libertação quando chegava a primeira oitava.
Assim já podíamos ir à ponte ou à casa da madrinha e brincar com os outros
pequenos nossos vizinhos.
Naturalmente que cumpríamos o nosso dever de ir à missa neste
dia, mas depois do almoço aproveitávamos para percorrer o sítio visitando as
lapinhas da vizinhança. Juntávamo-nos com outros pequenos e lá íamos de casa em
casa, observando atentamente os pormenores de todas as lapinhas que embora
semelhantes no seu essencial eram sempre diferentes de casa para casa.
Havia os pinheiros enfeitados com balões de soprar de várias cores, outros já tinham uma
gambiarra com luzes coloridas que também variavam de uma para outra e as
espiguilhas douradas e prateadas.

Aqui e acolá
sobressaíam os caminhos de farelo por onde caminhavam os pastores a caminho da
gruta, ribeiras de algodão branco contorcendo-se por entre os rochedos e um
lago também de algodão branco onde nadavam minúsculos patinhos; empoleirado em
cima da gruta, marcava presença o galo de crista vermelha e emproada. Todos
estes pormenores eram objecto da nossa atenção, não deixando de olhar
atentamente para o Menino Jesus que nós sempre comparávamos de lapinha para lapinha,
para depois concluirmos qual deles era o mais bonito.
As vizinhas gostavam e recebiam com carinho todos os pequenos
que neste dia chegavam à sua casa para visitar a lapinha e costumavam
oferecer-nos alguma coisa. Ainda não podíamos beber licor mas havia as broas,
uma fatia de bolo ou mesmo uma fatia de pão com manteiga que com boa vontade
nós sempre aceitávamos.
E assim se passava a primeira oitava do Natal.
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