domingo, 24 de dezembro de 2017

O brindeiro da Festa


UM BRINDEIRO COM HISTÓRIA

Antigamente, quando se amassava o pão da Festa também se tendiam brindeiros para colocar na lapinha de escadinha e para as avós oferecerem aos netos mais pequenos.

A  nossa mãe contava que no seu tempo de pequena costumava ir aos Barros na primeira oitava, a casa da sua avó materna, a avó Antónia. A avó oferecia um brindeiro a cada neto e trazia também uma joeira cheia de laranjas e distribuía-as por todos eles.

A cada Natal que se passava na nossa casa, eu ouvia esta história contada pela mãe, enquanto se amassava o pão da Festa. Para nós, enquanto pequenos, a mãe costumava fazer uma rosquilhinha pequena para cada um, mas ainda me lembro de quando a mãe também me fazia uma malinha de pão, a parte de baixo enroladinha como um caracol e com uma asinha mais alta que dava para levar na mão.

Já depois de todos adultos e quando eu ajudava a mãe a amassar o pão da Festa, a mãe costumava fazer um brindeiro para oferecer à tia.

Na última vez que amassámos o pão da Festa na nossa casa, a mãe fez três brindeiros, um para a tia, um para mim e um para Teresa. Parece que ainda estou a ver a mãe com todo o cuidado a tender os brindeiros para que ficassem bem feitinhos.

            Depois disso nunca mais amassámos porque ao ver a tia doente e sem poder fazer sozinha a sua vida  a mãe perdeu a vontade e aos poucos o seu coração também se foi ressentindo.

Uns dois anos depois perdemos a mãe e logo de seguida perdemos também a tia. Foi um Natal muito triste, sem aqueles dois pilhares que sempre tinham sustentado a magia da nossa Festa.

Mas o brindeiro não se perdeu. Ficou tão bem cozidinho que nunca criou bolor e ainda hoje o coloco na minha lapinha.

Os últimos brindeiros feitos com amor e dedicação pelas sábias mãos da nossa mãe.


Funchal, 24-12-2017

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