domingo, 17 de abril de 2016

Ao Cónego Ernesto


AO CÓNEGO ERNESTO FERNANDES DE FREITAS

É com a lágrima ao canto do olho que escrevo estas simples palavras.

Embora já tivesse conhecimento da partida do Cónego Ernesto, um arrepio percorreu-me a espinha mal comecei a ler a participação do seu funeral, sobretudo quando li “fundador e professor do antigo Externato São Vicente” e aqueles dois versos d’Os Lusíadas.

No meu tempo de aluna do Colégio Externato São Vicente sempre olhava para o Cónego Ernesto com muito respeito e admiração pela sua grande cultura e sabedoria e pelo modo inteligente como a transmitia nas suas aulas. Com ele aprendi as primeiras palavras na Língua Francesa, logo no primeiro ano do Ciclo Preparatório; até hoje sei de cor a letra da canção “Aprés toi”, canção que estava na moda nessa altura e foi ele que nos ensinou a cantar, pois também sabia música, cantava e tinha uma belíssima voz. Mas é sobretudo como professor de Português que o guardo na minha memória.

Será sempre um orgulho ter sido aluna deste grande professor que me ensinou quase tudo o que sei da minha língua materna, a Língua Portuguesa. Com ele aprendi a venerar a poesia de Camões na sua suprema obra “Os Lusíadas”. Aqueles sumários, fichas de trabalho que nos emprestava para analisarmos a obra nos seus principais aspectos (ideológico, mitológico e gramatical), não esquecendo as figuras de estilo que nos ensinou a descobrir, foram a base para o progressivo domínio do Português e serão sempre uma grata e saudosa lembrança.

Nas aulas do Cónego Ernesto aprendi a gostar de Literatura, desde Alves Redol e o seu “Constantino, guardador de vacas e de sonhos”, a Gil Vicente com a “Farsa de Inês Pereira”, passando por Eça de Queirós e os seus “Contos” que com gosto e empenho lemos e analisámos, bem como todos os outros autores portugueses que estudámos na nossa querida Selecta Literária, o nosso livro de Português.

Também devo a este excelente professor o domínio que hoje tenho sobre a Gramática Portuguesa. Eu adorava quando nos ensinava o porquê de determinadas palavras se escreverem desta e não daquela maneira. O Cónego Ernesto tinha grandes conhecimentos do Grego e do Latim e explicava-nos a origem da nossa Língua e todos aqueles fenómenos de formação e evolução das palavras.

Nos últimos anos costumava conversar com ele quando às vezes o encontrava na Igreja de São Pedro. As nossas conversas eram sempre sobre o Português, o Novo Acordo Ortográfico e a Nova Terminologia da Gramática. Eram sempre pequenos momentos interessantes e, se mais tempo houvesse mais teríamos para conversar.

Saiba, Senhor Cónego Ernesto, que mesmo não estando mais entre nós, será sempre uma referência na minha vida e nunca esquecerei todas as coisas boas que me ensinou e que eu com todo o gosto sempre aprendi.

Para mim foi um privilégio ter sido sua aluna e ser-lhe-ei eternamente grata!...

 

 

 

 
 

 

2 comentários:

  1. Senti o mesmo quando soube da triste notícia.
    Também tenho uma grande admiração pela pessoa e pelo grande professor que foi.
    Provavelmente fui sua colega no colégio, no 4º e 5º ano (antigos), em 1976/77 e 77/78. O professor Jaime, que lecionava Geografia e a D. Lucinda Andrade, que lecionava Francês, Matemática e Físico-Química, também são inesquecíveis. Tudo de bom para si e continue a escrever.

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  2. Eu fiz o meu 5ºano em 1976/77.
    Também tive Geografia com o professor Jaime e Francês, Matemática e Físico-Química com a D.Lucinda. Certamente fomos colegas mas em anos diferentes.
    Tudo de bom para si.

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