PASSEIOS A SÃO JORGE
Em tempo de férias, muitas vezes a tia levava-me com ela para
passar uns dias em São Jorge, onde desenvolvia a sua missão de enfermeira.
Inicialmente, íamos na camioneta do Acúrcio que saía da vila
de São Vicente e ia até São Roque do Faial, mas depois a tia comprou o seu Carocha
e então eu ia com ela, toda vaidosa e sentindo-me muito importante porque ia
sentada ao seu lado, na cadeira da frente. Assim podia ver todos os pormenores
da paisagem, daqueles lugares por onde só passava lá de tempos a tempos.

Assim que chegávamos a São Jorge, uma das primeiras coisas a
fazer era ir a casa do senhor Doutor Leonel Mendonça com quem a tia trabalhava, para que
ele e a senhora D. Constança me vissem. E eu, toda envergonhada e vermelha até às
orelhas, tinha que cumprimentá-los com um beijo, obedecendo às ordens da tia
que não gostava de artices e baboseiras, como ela mesma dizia.
Os dias eram passados entre São Jorge e Santana. Todos os
dias a tia ia com o senhor doutor visitar os doentes e levavam-me com eles no
carro.
Enquanto estávamos em Santana, a tia levava-me a uma loja de
roupas que lá havia e comprava-me sempre várias coisas; depois entrava numa
outra loja, comprava-me cadernos com uns desenhos na capa, como então estava na
moda e eu ficava toda encantada.
Quando à noite regressava novamente para São Jorge e assim
que me via com todas aquelas coisas que a tia me tinha comprado, eu queria logo
voltar para casa e, por mais que tentasse, a tia não conseguia convencer-me a
ficar mais tempo. Dizia que tinha saudades de casa, mas na verdade o que eu queria era mostrar às minhas amigas as coisas novas que tinha. Então, a tia lá
arranjava maneira de me vir trazer a São Vicente; e as minhas férias em São
Jorge que deveriam prolongar-se por duas ou três semanas, duravam apenas alguns
dias. Eu gostava mesmo era de estar na nossa casa.
Lá na outra dimensão, onde agora se encontra rodeada de anjos
e querubins, e ouvindo-me falar destas lembranças, a tia certamente deverá
estar a dizer, daquela forma tão peculiar que só ela mesma o fazia:
-“Pois olha!!!... “
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