segunda-feira, 4 de abril de 2016

Vamos a São Jorge


PASSEIOS A SÃO JORGE

Em tempo de férias, muitas vezes a tia levava-me com ela para passar uns dias em São Jorge, onde desenvolvia a sua missão de enfermeira.

Inicialmente, íamos na camioneta do Acúrcio que saía da vila de São Vicente e ia até São Roque do Faial, mas depois a tia comprou o seu Carocha e então eu ia com ela, toda vaidosa e sentindo-me muito importante porque ia sentada ao seu lado, na cadeira da frente. Assim podia ver todos os pormenores da paisagem, daqueles lugares por onde só passava lá de tempos a tempos.
 
Numa destas viagens, quando íamos a passar pela Fajã da Areia, enquanto olhava para o mar, vi uma lancha com alguém que andava por ali à pesca; toda entusiasmada eu disse à tia que olhasse, porque estava a ver um barquinho no mar. A tia, muito concentrada na sua condução disse logo que não podia olhar porque ia a conduzir; eu fiquei a pensar se deveria ser mesmo assim, se quem vai a guiar um carro só deve olhar para a frente e não para os lados, mas não devo ter acreditado lá muito, ou então não teria guardado este episódio na minha memória.

Assim que chegávamos a São Jorge, uma das primeiras coisas a fazer era ir a casa do senhor Doutor Leonel Mendonça com quem a tia trabalhava, para que ele e a senhora D. Constança me vissem. E eu, toda envergonhada e vermelha até às orelhas, tinha que cumprimentá-los com um beijo, obedecendo às ordens da tia que não gostava  de artices e baboseiras, como ela mesma dizia.

Os dias eram passados entre São Jorge e Santana. Todos os dias a tia ia com o senhor doutor visitar os doentes e levavam-me com eles no carro.

Enquanto estávamos em Santana, a tia levava-me a uma loja de roupas que lá havia e comprava-me sempre várias coisas; depois entrava numa outra loja, comprava-me cadernos com uns desenhos na capa, como então estava na moda e eu ficava toda encantada.

Quando à noite regressava novamente para São Jorge e assim que me via com todas aquelas coisas que a tia me tinha comprado, eu queria logo voltar para casa e, por mais que tentasse, a tia não conseguia convencer-me a ficar mais tempo. Dizia que tinha saudades de casa, mas na verdade o que eu queria era mostrar às minhas amigas as coisas novas que tinha. Então, a tia lá arranjava maneira de me vir trazer a São Vicente; e as minhas férias em São Jorge que deveriam prolongar-se por duas ou três semanas, duravam apenas alguns dias. Eu gostava mesmo era de estar na nossa casa.

Lá na outra dimensão, onde agora se encontra rodeada de anjos e querubins, e ouvindo-me falar destas lembranças, a tia certamente deverá estar a dizer, daquela forma tão peculiar que só ela mesma o fazia:

 -“Pois olha!!!... “   

 

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