sábado, 23 de abril de 2016

À roda dos livros


O VÍCIO DOS LIVROS

Desde pequena, mesmo antes de andar na escola primária, sempre senti uma grande atracção por livros. Lembro-me de virar e revirar vezes sem conta as folhas dos livros de Pedro, o nosso irmão mais velho, que de vez em quando me lia algumas das histórias que lá vinham. Olhava aquelas imagens a preto e branco que ilustravam os textos, as figuras dos heróis, os reis e rainhas de Portugal com as suas coroas, e tudo isso despertava em mim o grande desejo de aprender a ler.

Depois que entrei para a primeira classe e aprendi a ler, eu lia tudo o que surgisse à frente dos meus olhos.

Na escola, para além dos textos que vinham nos meus livros, lia de fio a pavio a revista ”Fagulha” que a minha professora, a D. Fernandina Brazão, me emprestava para eu ir lendo quando terminava as tarefas mais rápido do que as outras alunas, enquanto esperava que também elas terminassem o seu trabalho.

Quando ia a casa da madrinha também aproveitava para ler; sentava-me na cadeira de vimes ao pé da janela da cozinha e lia o Diário de Notícias, a revista Flama e a Crónica Feminina. Às vezes, a madrinha falava-me do Júlio Dinis que muito admirava e dos seus livros que já tinha lido, principalmente a Morgadinha dos Canaviais e As Pupilas do Senhor Reitor; também já ouvia o padrinho falar do Eça de Queirós e do seu livro A Cidade e as Serras, bem como do proibido "O Crime do Padre Amaro".

Entretanto, quando ainda andava na escola primária, inscrevi-me na Biblioteca Itinerante da Gulbenkian e então pude entrar verdadeiramente no mundo dos livros. Tornei-me uma assídua frequentadora da Biblioteca que vinha de duas em duas semanas e parava no largo da Capela Velha, ao pé da igreja, emprestando livros a quem quisesse ler.

O senhor professor Góis, responsável pela Biblioteca, aconselhava-nos e indicava-nos quais os livros mais apropriados para a nossa idade. O máximo de livros que era permitido requisitar eram seis, eu trazia-os sempre todos e conseguia lê-los naquele intervalo de duas semanas.

Ainda me lembro dos livrinhos do Nody com as suas brincadeiras e imagens muito vistosas e do livro com ilustrações a preto e branco da Heidi cujas desventuras me faziam um aperto no coração, mas continuava a ler a história, sempre à espera do final feliz.

Já um pouco mais crescida, entrei n’As Aventuras dos Cinco, Os seis primos numa quinta, As meninas exemplares, Os desastres de Sofia e muitos outros, até que cheguei ao Júlio Dinis, às suas histórias e diferentes personagens que também me encantavam.

Livraria Cultura, na Avenida Paulista, cidade de São Paulo
E o gosto pelos livros continuou até hoje. Se há sítios onde me sinto mesmo bem é numa biblioteca ou livraria. Às vezes digo que numa outra vida devo ter sido bibliotecária ou algo semelhante, tal é o fascínio que os livros exercem sobre mim. Quando viajo, gosto de entrar nas livrarias para ver e manusear os livros e sempre encontro algum livro especial para trazer comigo.

Ler é uma das coisas que me dão mais prazer e não passo sem a leitura de um bom romance. Gosto de ler no silêncio da noite, absorvendo as palavras e desenhando imagens no meu pensamento, esquecendo a passagem das horas, como se o amanhã ainda demore a chegar.

Um livro é sempre um fiel amigo; quem lê um livro nunca se sente só!...

 

 

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