A CASA DA AVÓ
No sítio das Fontes ficava a casa da avó Silvéria, a nossa
avó materna; lá nasceram e cresceram os nossos tios e a nossa mãe a quem todos,
com muita estima, chamavam a Teresinha das Fontes.
Quando lá íamos, assim que descíamos uma parte do caminho a
que chamávamos os Loirinhos logo se lhe via o telhado. Era mesmo ao nível do
caminho e da levada, separada apenas por uma sebe de buxo. Como todas as casas
desse tempo, tinha um terreiro de pedra calçada e uns canteiros desenhados com
relva, onde havia uma velha parreira que se agarrava ao beiral da casa, cobrindo
uma parte do terreiro e fazendo sombra nos quentes dias de verão. Para cima da
levada, até à laja da ribeira e para baixo da casa tinha latadas de vinha e lá
mais abaixo a fonte. Esta era uma fonte diferente pois não tinha torneira. Era uma
nascente que formava um poço minúsculo, onde a água sempre fresca saía
continuamente da terra e corria por dentro dos vimieiros e dos pés de inhame, sumindo-se depois por lá abaixo; era àquela fonte que
todos iam buscar água.
Desde que me lembro, fui habituada a ir às Fontes. A mãe
contava que sempre que lá ia visitar a avó, costumava levar-me ainda pequena do
colo, aconchegada no seu xaile, embora disso eu não me lembre. Mas tenho bem
nítida na minha memória a imagem de ir de mão dada com a mãe a descer as
passadas de pedra, pela vinha do tio Manuel abaixo, e a tia que tinha chegado
de São Jorge, a vir ao nosso encontro pelo caminho para cá; nunca me saiu da
lembrança a mãe me pegar ao colo para dar um beijo na tia e eu muito
envergonhada escondi-me no colo da mãe para não lhe dar o beijo.
Também me recordo muito bem de uma outra vez em que ia de mão
dada com a mãe a chegar a casa da avó e ela já vinha ao nosso encontro,
trazendo na mão uma fatia de pão com doce de amora para me dar.
Depois de um pouco mais crescidinha já sabia ir às Fontes
sozinha.
A mãe mandava-nos, eu e Agostinho, e lá íamos os dois, também
a casa do tio Manuel, mesmo ao lado de cima da casa da avó. Parece que estou a
ver-nos subindo os degraus da casa do tio, e o Volvo, o cão que já era um pouco
velhote, a olhar-nos do terreiro, no cimo das escadas; e logo chegava a tia
Antónia que gostava muito da nossa visita. Então levava-nos pelo terreiro da
cozinha, – à luz dos nossos olhos aquele terreiro era muito comprido, - e íamos
até junto do poço de lavar roupa, onde o tio tinha uns pés de cana doce. A tia
apanhava umas canas, descascava, partia aos bocadinhos e dava-nos para irmos
trincando. Nós ficávamos muito contentes e quando chegávamos a casa contávamos
à mãe como tinha sido a nossa visita a casa do tio Manuel, aquele tio alegre e divertido, de quem nós muito
gostávamos.
São momentos simples mas felizes que para sempre ficarão
guardados na lembrança e o sítio das Fontes, um lugar que sempre fará parte da
nossa história.
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