terça-feira, 15 de março de 2016

Em romaria...


VAMOS À PONTA DELGADA

A Festa do Senhor Bom Jesus foi, desde sempre, um grande arraial e toda a gente gostava de lá ir, uns porque tinham promessas a pagar e outros pelo simples prazer de se divertir. Também nós queríamos ir à festa e bem pedíamos à mãe para nos levar porque fulana e sicrana também iam, mas a mãe não estava pelos nossos ajustes, pois ainda éramos todos pequenos e não lhe era fácil sair assim de casa com todos ao mesmo tempo; só nos restava esperar pela Festa do Rosário, que era mesmo ao pé de casa.

Quando já éramos todos maiores, houve um ano em que (finalmente!!!) fomos à festa. O pai tinha uma promessa e tivemos mesmo que ir todos. A mãe chamou o carro do senhor Agostinho para nos levar e trazer, e lá fomos todos de carro, só até à Ribeira da Camisa porque a partir daí a estrada estava fechada. Depois fomos andando a pé até à Ponta Delgada o que ainda era um bom pedaço de caminho.

Embora a promessa fosse do pai, tivemos todos que ir à igreja, e uns atrás dos outros, subir aquelas escadinhas até lá acima, e beijar os pés da imagem do Senhor Bom Jesus. Só depois desta volta feita é que fomos então a uma barraca fazer uma espetada e tomar a bebida própria do arraial: um quarto de litro de vinho e duas ou três laranjadas, tudo misturado num jarro grande que depois era distribuído por todos apenas com um ou dois copos. Mais do que a espetada, era esta bebida que nos lembrava mesmo o arraial.

O regresso foi uma verdadeira aventura. Quando já íamos a caminho da Ribeira da Camisa começou a cair uma chuva miudinha que depois foi engrossando e se tornou num grande e persistente pé de água que nunca mais parava. Embora o carro do senhor Agostinho estivesse à nossa espera, quase não cabíamos todos porque a carroçaria encheu-se de gente querendo escapar à chuva e tentando chegar o mais rápido possível a São Vicente. Mas lá viemos embora, o pai e a mãe à frente ao lado do condutor e nós em cima da carroçaria, espremidos no meio de toda aquela gente que já havia subido antes de nós. Chegámos a casa num pingo, como se costuma dizer, mas o pai cumpriu a sua promessa e nós fomos à festa da Ponta Delgada.

 

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