O 1º DE MAIO E A VISITA DO ESPÍRITO SANTO
Os
preparativos começavam uns dias antes com a limpeza da casa. Era preciso lavar
as vidraças das janelas, as cortinas, os tapetes, os bordados e os crochets
para pôr em cima da mesa. A mãe tirava da mala uns tapetes novos, daqueles às
riscas de retalhos, para pôr na sala.
Na
véspera amassávamos o pão e fazíamos os bolos: o bolo preto, ou de família, que
a mãe sabia a receita de cor, e o bolo amarelo, o “Bolo de freira”, como então
se dizia. Também se fazia as broas de mel e às vezes os biscoitos de manteiga.
Entretanto, a mãe já tinha comprado as azeitonas e o queijo, cuja casca
cor-de-rosa nos saltava à vista, o que só acontecia em ocasiões assinaladas e
neste dia não podiam faltar à mesa.
No dia da visita tínhamos que nos
levantar cedo porque antes de irmos para a missa a casa já devia estar
arrumada. Então a mãe abria a mala e tirava a manta mais bonita que o pai tinha
trazido do Curaçau, e colocava na sua cama; depois fazia um bonito ramo com as
hastes de São José, apanhadas lá mesmo na beira da nossa vinha, e colocava na
mesa da sala. A sala já estava pronta para receber o Divino Espírito Santo, era
só esperar.
Era
sempre uma grande alegria e emoção. O pai esperava no portal para recebê-los e
nós esperávamos no terreiro; primeiro entravam as bandeirinhas que nós logo
beijávamos, depois vinham as saloias atirando pétalas de flores e cantando
acompanhadas pelos tocadores, “Aqui chega uma visita, que já não chegou há
tanto, receba com alegria, o Divino Espírito Santo”; no fim, vinham o homem da
salva e o Senhor Padre que o pai cumprimentava sempre com muito respeito.
Já
dentro de casa o Senhor Padre abençoava todos com a água-benta e havia música e
cantigas. Então, quando vinha o Afonso dos Barros a tocar a sua rabeca, havia
sempre mais um toque em honra da mãe, que era sua prima. À mãe, brilhavam-lhe
os olhos marejados de lágrimas de emoção e saudade dos familiares que já haviam
partido ou que se encontravam ausentes.

Antes
de saírem, a mãe dava um pequeno envelope com a oferta para o Senhor Padre,
outro com a oferta para a salva e outro com um dinheirinho para as saloias.
Então elas cantavam “Agradeço a vossa oferta, vossa oferta é um favor, quem vos
há-de agradecer, há-de ser Nosso Senhor”.
E
lá ia o Espírito Santo para casa dos outros vizinhos.
LINDO!
ResponderEliminarA única diferença é que não havia um envelope para a senhor padre; só para a Salva e umas moedas para as saloias. O padre Teixeira já esteve em Gaula.
Gostei muito!
ResponderEliminarA mim também fazia lembrar a cera que se esfregava no soalho no dia antes, tínhamos de esfregar até brilhar... Boa prima!
Muitas boas recordações !