À ESPERA DA CEIFA
Na
estação da Primavera todo o nosso Rosário se vestia de verde. Para qualquer
lado que olhássemos podíamos ver as searas de trigo envoltas num maravilhoso
verde tenro que encantava a nossa vista. Quem parasse por uns momentos ali na
curva da Achada do Beirão, desfrutava da magnífica paisagem oferecida pela
Achada do Loural com os seus muitos palheiros de restolho emergindo graciosos
no meio dos verdes campos de trigo, imagem que se eternizou e percorreu o mundo
através dos postais comprados pelos muitos turistas que por ali passavam em excursão. O mesmo
acontecia à medida que se ia descendo a estrada até ao Lombo de Baixo: verde,
verde e mais verde para onde quer que se olhasse.
Pela Quinta-feira de Ascensão, dia santo de guarda, era um regalo para a vista
olhar os campos de trigo, já espigado e começando a amarelecer, salpicados aqui
e ali por flores amarelas, os pampilros, que as raparigas colhiam para fazer
cordões com que se embelezavam nesse dia. Então era ver pela tarde, magotes de
raparigas com esses cordões amarelos ao pescoço, descendo o Lombo por entre
cantigas, brincadeiras e gargalhadas, até lá abaixo, à espera do Espírito Santo
que regressava da visita à Ribeira Grande e Achada do Til. Ali mesmo na volta
do Lombo seria celebrada a já esperada Missa Campal que dava por encerrada a
Visita Pascal aos sítios da paróquia do Rosário.
Quando chegava o Verão a paisagem
começava a transformar-se. Aos poucos, os tons de amarelo e dourado tomavam
conta dos campos e era um encanto ver o trigo a cintilar ao sol cada vez mais
ardente, à espera da hora de ser ceifado.
E em finais do mês de Julho chegava a altura da ceifa, dias
de verdadeira azáfama.
Homens e mulheres, rapazes, raparigas e crianças, a cabeça
coberta por um lenço amarrado na nuca ou chapéu de palha, todos ajudavam a apanhar o trigo. Em todos
os campos se viam grupos envolvidos nessa tarefa. De vez em quando, daqui e
dali ecoavam as vozes das mulheres e raparigas cantando as cantigas próprias
desta alegre faina agrícola, enquanto os homens com aquela grande foice iam
roçando o trigo e separando as espigas do restolho.
Depois viriam as máquinas com aquele som característico e tão
conhecido, para debulharem o trigo, separando o grão para um lado e a palha
para outro.
Eram dias de grande labuta, mas era Verão; os dias compridos
ajudavam a que se fizesse todo o trabalho e ainda sobrava tempo para um dedo de
prosa ao luar de Agosto.
Que bom, ter oportunidade de ler estas "histórias" verídicas. Bjs
ResponderEliminar