quinta-feira, 24 de março de 2016

Trigo verde, trigo loiro


À ESPERA DA CEIFA

            Na estação da Primavera todo o nosso Rosário se vestia de verde. Para qualquer lado que olhássemos podíamos ver as searas de trigo envoltas num maravilhoso verde tenro que encantava a nossa vista. Quem parasse por uns momentos ali na curva da Achada do Beirão, desfrutava da magnífica paisagem oferecida pela Achada do Loural com os seus muitos palheiros de restolho emergindo graciosos no meio dos verdes campos de trigo, imagem que se eternizou e percorreu o mundo através dos postais comprados pelos muitos turistas que por ali passavam em excursão. O mesmo acontecia à medida que se ia descendo a estrada até ao Lombo de Baixo: verde, verde e mais verde para onde quer que se olhasse.

Pela Quinta-feira de Ascensão, dia santo de guarda, era um regalo para a vista olhar os campos de trigo, já espigado e começando a amarelecer, salpicados aqui e ali por flores amarelas, os pampilros, que as raparigas colhiam para fazer cordões com que se embelezavam nesse dia. Então era ver pela tarde, magotes de raparigas com esses cordões amarelos ao pescoço, descendo o Lombo por entre cantigas, brincadeiras e gargalhadas, até lá abaixo, à espera do Espírito Santo que regressava da visita à Ribeira Grande e Achada do Til. Ali mesmo na volta do Lombo seria celebrada a já esperada Missa Campal que dava por encerrada a Visita Pascal aos sítios da paróquia do Rosário.

            Quando chegava o Verão a paisagem começava a transformar-se. Aos poucos, os tons de amarelo e dourado tomavam conta dos campos e era um encanto ver o trigo a cintilar ao sol cada vez mais ardente, à espera da hora de ser ceifado.

E em finais do mês de Julho chegava a altura da ceifa, dias de verdadeira azáfama.

Homens e mulheres, rapazes, raparigas e crianças, a cabeça coberta por um lenço amarrado na nuca ou chapéu de palha, todos ajudavam a apanhar o trigo. Em todos os campos se viam grupos envolvidos nessa tarefa. De vez em quando, daqui e dali ecoavam as vozes das mulheres e raparigas cantando as cantigas próprias desta alegre faina agrícola, enquanto os homens com aquela grande foice iam roçando o trigo e separando as espigas do restolho.

Depois viriam as máquinas com aquele som característico e tão conhecido, para debulharem o trigo, separando o grão para um lado e a palha para outro.

Eram dias de grande labuta, mas era Verão; os dias compridos ajudavam a que se fizesse todo o trabalho e ainda sobrava tempo para um dedo de prosa ao luar de Agosto.


 

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