Pedro, o nosso irmão mais velho
Nasceu no dia de São Pedro, a 29 de Junho de 1952; como a mãe
sempre dizia, trouxe o nome já com ele. Era ainda pequeno do colo quando o pai
embarcou para o Brasil. Cresceu mimado por todos: era o menino da avó Serafina,
da tia, dos avós das Fontes, da prima, da madrinha...mas era sobretudo o menino
da mãe. Foi filho único até aos nove anos, quando nasceu a menina, a Ângela
Serafina, após o regresso do pai, que então estivera emigrado no Curaçau.
Era uma criança inteligente e com bom ouvido musical, pois
com apenas seis anos aprendeu a tocar gaita sozinho e a primeira música que
tocou foi “O bailinho das couves”, como a mãe sempre contava. Quando fez exame
da quarta classe, a avó Serafina queria que fosse estudar no Seminário, mas
Pedro que sempre foi agarrado à mãe preferiu ficar em casa ajudando o pai.
Todos crescemos sabendo do amor especial que a nossa mãe
tinha por ele, o que para nós era muito natural, porque era o nosso irmão mais
velho e todos gostávamos muito dele. A mãe falava de Pedro sempre com os olhos
a brilhar e muitas vezes vimos as suas lágrimas, quando no seu tempo de tropa
se despedia, ao domingo, para ir para o quartel…
Quando aconteceu o 25 de Abril, estava a cumprir serviço
militar no Porto; foi uma agonia em casa porque durante vários dias não
soubemos dele. Todas as semanas chegavam cartas dele, uma em nome da mãe e
outra no meu nome, pois eu com doze anos apenas, também lhe escrevia e
contava-lhe tudo o que se passava na nossa casa.
Quis o destino que fosse tentar a vida na Venezuela. Foi lá
que formou a sua família. De vez em quando escrevia uma carta e sempre
perguntava à mãe como estavam os pequenos que éramos nós. Após quinze anos veio
pela primeira vez à Madeira e então pôde constatar que afinal os pequenos já
eram todos adultos. Foi o melhor Natal de sempre, em que estivemos todos
juntos.
No dia 11 de fevereiro de 2015, lá na Venezuela, ao lado da
mulher, filha e netos, o nosso Pedro partiu para a vida eterna, ao encontro da
nossa mãe que certamente o recebeu de braços abertos.
Funchal, 13 de fevereiro de 2015
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