terça-feira, 15 de março de 2016

Vamos p'rà festa



O BOM JESUS DE PONTA DELGADA
 
A festa do Bom Jesus de Ponta Delgada era tão vivida quanto a Festa do Rosário, apesar de não ser na nossa freguesia. É um dos dois grandes arraiais do nosso concelho, e por isso sempre foi muito festejada. Em casa não podia faltar a já tradicional amassadura de pão, e o pai comprava sempre carne de vaca, para se fazer uma espetada no sábado à tarde e o guisado no almoço de domingo.
 
Na sexta-feira, mais ou menos pela hora do almoço, começavam a passar os romeiros para a festa; vinham a pé, dos lados do Sul e do Curral das Freiras. Desciam pelo Quebra-Panelas e a primeira paragem era no largo da ponte, na venda do padrinho, o senhor Faria. Logo ali faziam um brinco e o povo já ficava todo animado.
 
A mãe contava que naquele tempo em que vinham muitos romeiros, alguns pernoitavam nas casas de algumas famílias, preparavam ali as suas refeições (o tradicional caldo da romaria) e conviviam uns com os outros fazendo amizades que perduravam no tempo. Era uma brincalhada, como dizia a mãe. A cozinha da casa da madrinha enchia-se de romeiros e também a nossa casa, a da avó Serafina. Nas Fontes, a avó Silvéria estendia as cobertas de retalhos no chão da cozinha e no sobrado do palheiro, e muitos lá dormiam. Havia brincos ao toque do rajão e das castanholas, cantigas ao despique e muito convívio entre residentes e forasteiros. Alguns já deixavam destinado que no ano seguinte ali estariam, contando de antemão com o abrigo daquela família.
 
Depois da festa, a paragem era no Chão dos Louros. A segunda-feira do Setembro, logo depois do domingo da Ponta Delgada era um verdadeiro dia de festa para as gentes de São Vicente. Os romeiros paravam ali, havia barracas de comes e bebes e também bancadas de quinquilharias onde não podiam faltar as castanholas, os chapéus de palha e as carapuças de vilão. Havia quem fizesse uma espetada, outros faziam uma panelada, cozendo o almoço nos lares que lá havia, mas muita gente levava um grande farnel para fazer o seu piquenique. Toda a gente brincava e se divertia, ainda mais quando estava bom tempo.
 
Ao fim da tarde, lá vinham magotes de rapazes e raparigas descendo a Ponte Ladeira, passando pelas Covas e pelas Caldeirinhas, brincando e cantando aquelas cantigas que todos sabemos desde pequenos:
 – Viva o Chão dos Louros, viva a Encumeada; viva a nossa malta que está toda animada! – É São João, tiroliroliro; é São José, tiroliroliro; no garrafão, tiroliroliro; só tem jaqué!
 
Era assim que por aqueles lados se vivia o arraial da Ponta Delgada.
Outros tempos!...                  

 

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