DIAS DE CALOR
Nestes dias de sol e calor intenso, muitas vezes lembro-me da
mãe.
A mãe não gostava mesmo nada do inverno: por causa da chuva,
porque assim não podia ir ao Lombo ou às Fajãs, do frio que a obrigava a andar
agasalhada e lhe punha roxa a ponta do nariz e também pelas noites grandes as
quais, como ela mesma dizia, demoravam muito e parecia que nunca mais o dia
clareava.
Então, quando o tempo aquecia mesmo, dizia com ar satisfeito
que assim já podia andar de manga curta e os braços já podiam apanhar sol. E de
lenço na cabeça, amarrado na nuca, lá ia para os seus afazeres, nas Fajãs ou no
Lombo. Chegava a casa vermelha e acalorada, dizendo “que calmaria!...”.
Depois de descansar um bocado, aproveitava que estava muito
calor e sentava-se a bordar debaixo da vinha, naquele banco improvisado que o
pai havia arranjado com um rolo de tronco de pinheiro. Se estivesse sozinha, só
com a gente por ali à sua roda, punha-se a cantar o que lhe viesse à cabeça, as
cantigas do São João, do Max ou das Missas do Parto e do Natal; também contava
histórias e acontecimentos de quando era mais nova, mas se tivesse a companhia
de alguma vizinha aproveitava para por a conversa em dia.
Ai que saudades!...
Sem comentários:
Enviar um comentário