AS NOSSAS FAJÃS
No Verão, as nossas Fajãs eram terra de fartura.
Havia de tudo: feijão e maçarocas, abóboras, beringões,
pimpinelas, tomates e pepinos; os galhos das ameixieiras pendiam carregados de
ameixas, os damascos cheiravam que era uma beleza, os pêssegos, daqueles
pequenos que dão o caroço, eram uma tentação e as maçãs já iam a meio tamanho.
Eram a nossa Costa Rica e, como costumava dizer a mãe, quem lá fosse por esta
altura nunca vinha de barriga vazia.
E era bem verdade. Quando a mãe ia às Fajãs raramente chegava
a casa de mãos vazias. Quase sempre trazia a abada do avental com as pontas
amarradas à cintura, com ervilhas ou feijão verde, damascos, fruta da qual
muito gostava, ou uma maçã daquelas grandes e riscadas que às vezes com algum
ventinho caíam ao chão e cheiravam que era uma delícia.
Era ali que o pai passava o dia a trabalhar nas suas terras,
de onde tirava o nosso sustento e a fartura da nossa casa; ia de manhã bem cedo
e só vinha à tardinha para a ceia. Depois do almoço, que nós levávamos num
cesto de vimes, não deixava passar uma boa hora de sono, à sombra da figueira,
ali mesmo ao lado do palheiro de baixo. Aquela figueira era bem grande mas
nunca deu figos o que muitas vezes nos fazia questionar a razão de tal nunca
acontecer. Não obstante, a sua frondosa ramagem dava uma sombra gostosa onde
sabia bem refrescar-se naquelas horas em que o calor do Verão ardia como lume.
Apesar das tarefas que o pai nos destinava, era bom andar
pelas Fajãs neste tempo do Verão, pois embora houvesse trabalho, também havia
descontração, risadas e brincadeiras. Habitualmente, almoçávamos à volta da
toalha estendida em cima de uma saca de serapilheira, à sombra do castanheiro,
da ameixieira ou da figueira, como se fosse um piquenique; rolávamos na erva, bebíamos
água na bica, com uma folha de couve a fazer de concha, andávamos descalços
dentro da levada, refrescando-nos do calor e às vezes os rapazes tomavam banho
na poça.
O que não era lá muito agradável era subir o Encontro e a
ladeira do senhor Brito naquelas horas em que o sol abrasava; era um verdadeiro
suplício e com o calor parecia que nunca mais chegávamos. Mas tinha que ser e
nenhum de nós se atrevia a reclamar ou a dizer que não ia; era um dever de todo
o filho obedecer aos pais e nós assim procedíamos. E lá íamos, andando um
bocado e parando para descansar um pouco, até chegar lá acima, às nossas Fajãs,
onde o pai já estava à nossa espera.
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