terça-feira, 1 de março de 2016

Encantos de verão


AS NOSSAS FAJÃS
No Verão, as nossas Fajãs eram terra de fartura.

Havia de tudo: feijão e maçarocas, abóboras, beringões, pimpinelas, tomates e pepinos; os galhos das ameixieiras pendiam carregados de ameixas, os damascos cheiravam que era uma beleza, os pêssegos, daqueles pequenos que dão o caroço, eram uma tentação e as maçãs já iam a meio tamanho. Eram a nossa Costa Rica e, como costumava dizer a mãe, quem lá fosse por esta altura nunca vinha de barriga vazia.

E era bem verdade. Quando a mãe ia às Fajãs raramente chegava a casa de mãos vazias. Quase sempre trazia a abada do avental com as pontas amarradas à cintura, com ervilhas ou feijão verde, damascos, fruta da qual muito gostava, ou uma maçã daquelas grandes e riscadas que às vezes com algum ventinho caíam ao chão e cheiravam que era uma delícia.

Era ali que o pai passava o dia a trabalhar nas suas terras, de onde tirava o nosso sustento e a fartura da nossa casa; ia de manhã bem cedo e só vinha à tardinha para a ceia. Depois do almoço, que nós levávamos num cesto de vimes, não deixava passar uma boa hora de sono, à sombra da figueira, ali mesmo ao lado do palheiro de baixo. Aquela figueira era bem grande mas nunca deu figos o que muitas vezes nos fazia questionar a razão de tal nunca acontecer. Não obstante, a sua frondosa ramagem dava uma sombra gostosa onde sabia bem refrescar-se naquelas horas em que o calor do Verão ardia como lume.

Apesar das tarefas que o pai nos destinava, era bom andar pelas Fajãs neste tempo do Verão, pois embora houvesse trabalho, também havia descontração, risadas e brincadeiras. Habitualmente, almoçávamos à volta da toalha estendida em cima de uma saca de serapilheira, à sombra do castanheiro, da ameixieira ou da figueira, como se fosse um piquenique; rolávamos na erva, bebíamos água na bica, com uma folha de couve a fazer de concha, andávamos descalços dentro da levada, refrescando-nos do calor e às vezes os rapazes tomavam banho na poça.

O que não era lá muito agradável era subir o Encontro e a ladeira do senhor Brito naquelas horas em que o sol abrasava; era um verdadeiro suplício e com o calor parecia que nunca mais chegávamos. Mas tinha que ser e nenhum de nós se atrevia a reclamar ou a dizer que não ia; era um dever de todo o filho obedecer aos pais e nós assim procedíamos. E lá íamos, andando um bocado e parando para descansar um pouco, até chegar lá acima, às nossas Fajãs, onde o pai já estava à nossa espera.

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