«Recentemente
li
Rimas da vida e da morte, do excelente Amós Oz, que narra os
delírios de um escritor que ao participar de um sarau literário começa a olhar
para cada desconhecido na plateia e a criar silenciosamente uma história
fictícia para cada um deles, numa inspirada viagem mental. Lá pelas tantas, em
determinado capítulo, o autor comenta algo que sempre me fez pensar: diz ele
que a gente vive até o dia em que morre a última pessoa que lembra de nós. Pode
ser um filho, um neto, um bisneto ou um admirador, mas enquanto essa pessoa
viver, mesmo a gente já tendo morrido, viveremos através da lembrança dele. Só
quando essa pessoa morrer, a última que ainda lembra de nós, é que morreremos
em definitivo, para sempre. Estaremos tão mortos como se nunca tivéssemos
existido.»
Este
é o início da crónica da Martha Medeiros, do livro " Feliz por nada".
Ao
ler este texto, dei comigo a pensar naqueles que fizeram parte da minha vida e
já se foram para vida eterna: aqueles com quem partilhei a minha
vida desde criança e também aqueles que eu nunca conheci mas
estão na minha memória através das histórias, contadas pelo pai e
principalmente pela mãe, uma excelente contadora de histórias. Todos eles
continuam vivos porque, apesar de já não estarem neste mundo os
que viveram realmente as histórias, nós continuamos a
contá-las aos mais novos, acrescentando outras que já vivemos
realmente, esperando que um dia também se lembrem de contá-las...
E
nunca saberemos quem foi o último que se lembrou de nós!...
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