domingo, 6 de março de 2016

Reflexões


O ÚLTIMO A LEMBRAR DE NÓS

«Recentemente li  Rimas da vida e da morte, do excelente Amós Oz, que narra os delírios de um escritor que ao participar de um sarau literário começa a olhar para cada desconhecido na plateia e a criar silenciosamente uma história fictícia para cada um deles, numa inspirada viagem mental. Lá pelas tantas, em determinado capítulo, o autor comenta algo que sempre me fez pensar: diz ele que a gente vive até o dia em que morre a última pessoa que lembra de nós. Pode ser um filho, um neto, um bisneto ou um admirador, mas enquanto essa pessoa viver, mesmo a gente já tendo morrido, viveremos através da lembrança dele. Só quando essa pessoa morrer, a última que ainda lembra de nós, é que morreremos em definitivo, para sempre. Estaremos tão mortos como se nunca tivéssemos existido.»

Este é o início da crónica da Martha Medeiros, do livro " Feliz por nada".

Ao ler este texto, dei comigo a pensar naqueles que fizeram parte da minha vida e já se foram para vida eterna: aqueles com quem partilhei a minha vida desde criança e também aqueles que eu nunca conheci mas estão na minha memória através das histórias, contadas pelo pai e principalmente pela mãe, uma excelente contadora de histórias. Todos eles continuam vivos porque, apesar de já não estarem neste mundo os que viveram realmente as histórias, nós continuamos a contá-las aos mais novos, acrescentando outras que já vivemos realmente, esperando que um dia também se lembrem de contá-las...

E nunca saberemos quem foi o último que se lembrou de nós!... 
 

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