segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Brincadeiras de outros tempos



DEBAIXO DA VINHA

Era debaixo da vinha que nós brincávamos. Ali, o chão de terra batida dava para fazermos todas as brincadeiras que nos viessem à cabeça.

Havia uma época, talvez nos dias frios de inverno quando o sol dava um ar da sua graça, em que a brincadeira favorita eram as lapinhas. Arranjávamos num cantinho algo que a nossa imaginação nos dizia que podia ser uma pequena gruta e ali mesmo fazíamos um presépio. Com musgo verdinho e fofo que arrancávamos nos muros de pedra húmidos, forrávamos todo o espaço e completávamos a cena do Nascimento com os botões amarelos das jarras que serviam para todos os intervenientes: um mais pequenino, deitado a jeito era o Menino Jesus, e dispostos à sua volta, Nossa Senhora, São José e os pastores.

Quando já não nos interessavam as lapinhas, brincávamos à venda. Uma tábua de madeira em cima de duas pedras fazia a vez de mesão e ali colocávamos tudo o que havia para vender: as pedras mais arredondadas eram o pão; com bocadinhos de telha bem triturados fazíamos o cacau e até fazíamos licor de morango com aquelas flores vermelhas um pouco malcheirosas que nasciam ali na beira do corgo, ao pé da casa velha.

Os paus e as estacas da latada serviam para tantas coisas. Uma corda grossa com as duas pontas amarradas em cima e uma saca de serapilheira bem dobrada a fazer de assento, dava um baloiço que nos fazia voar até às alturas. Mas só podíamos aproveitar o nosso baloiço quando a mãe não estava por perto. A mãe não gostava mesmo nada desta brincadeira porque não era lá muito segura, não fosse a corda soltar-se e nós nos magoarmos a sério. Além disso, o pai nem podia sonhar que nos tínhamos baloiçado na vinha, porque achava que ao fazer isso partíamos as parreiras. Então, quando cada um de nós já se tinha baloiçado um bocadinho, desatávamos logo a corda e colocávamo-la no seu devido lugar, para o pai não perceber nada.

 





 
 
 
 
 

 
 
 

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