quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Natal...

OUTRA VEZ NATAL
 
Eu passo e olho, mas não vejo nem oiço. Faço de conta que não vejo os enfeites de Natal que já há tanto tempo embelezam os centros comerciais, os adereços natalícios que saltam à vista logo que se entra em algumas lojas, do mesmo modo que não oiço as letras e os acordes das músicas que teimosamente me querem entrar pelos ouvidos. Dar atenção a estas coisas leva-me a pensar no Natal e eu ainda não tenho tempo para isso. Não tenho tempo e por enquanto não quero pensar.
 
Pensar no Natal obriga-me a abrir os escaninhos da minha memória e eu tenho que ter tempo para fazê-lo com calma e não com pressas ou à toa, para não perder nenhum daqueles fios que saudosamente se entrelaçam nas lembranças de outros natais. Mesmo assim, a presença destes motivos natalícios é tão forte que por vezes não consigo evitar que de repente se abra uma das muitas gavetinhas de lembranças e, por momentos, dou por mim mergulhada na Festa da minha infância.
 
Quando me saltam à vista os pinheiros artificiais, que agora podem ser de qualquer cor, ou os enfeites de qualquer feitio, brilhantes ou não, só me lembro do nosso pinheiro verde que trazíamos das nossas Fajãs, escolhido pelo tamanho adequado ao cantinho onde habitualmente era colocado todos os anos. Decorado com bolas e espiguilhas e iluminado pelas luzinhas da gambiarra exalava o seu cheiro por toda a casa e era sempre enfeitado na véspera de Festa, depois da casa toda limpa e arrumada.

Os cânticos de Natal que continuamente ecoam por todos os espaços comerciais, transportam-me para outros momentos muito queridos do meu tempo de criança. Revejo-me  a ensaiar as cantigas para ser o anjo da noite de Natal, fazendo os gestos que me haviam ensinado e é como se sentisse novamente aquele nervoso miudinho que no meio das cantigas me fazia desatar a rir às gargalhadas; volto a ouvir a bonita voz da mãe quando nos cantava e ensinava as cantigas de Natal do seu tempo de rapariga; e revejo a cena, de nós todos à noite na sala, à volta da lapinha, cada um cantando a sua cantiga ao Menino Jesus e a mãe ajudando a cantar “Glória in Excelsis Deo”, enquanto o pai, já sentado à cabeceira da cama, com um mal disfarçado brilho no azul dos seus olhos, ia ouvindo as nossas cantorias.
 
Por estas bonitas e ternas lembranças que com uma enorme saudade me apertam o peito, eu não quero ainda pensar no Natal; mas hei-de ter tempo para pensar nele com carinho. Porque Natal é sempre Natal!...
 
 
 

 

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