Nestes
tempos de inverno, em que os ponchos e os xailes são acessórios que fazem parte
da moda feminina, lembro-me muitas vezes do meu tempo de criança, quando também
era hábito as mulheres usarem o seu xaile para se agasalharem ou mesmo para
comporem a sua indumentária. Nesse tempo as mulheres viúvas usavam um xaile preto
e as outras um xaile de cor que servia também para agasalhar no colo as
criancinhas pequenas. Eu achava graça ao modo como as mulheres pegavam nos
pequenos e os embrulhavam com o xaile, um lado preso por baixo do braço que
segurava o pequeno e outro lado por cima a tapá-lo; só a carinha ficava à
vista.
Lembro-me
bem das minhas duas avós com o seu xaile, mas nunca vou esquecer o xaile da
mãe. Era em xadrez miudinho, em tons esverdeados e castanhos, com franjas. Aquele
xaile aconchegou-nos a todos no seu colo e, tal como dizia o fado, também nos
aqueceu com carinho. Muitas vezes, quando pegava ao colo os meus irmãos mais
pequenos, tentei imitar a mãe embrulhando-me com o seu xaile, querendo fazer
como ela e as outras mulheres faziam, mas o xaile era bem maior do que eu e por
isso nunca me ajeitava daquela maneira.
Hoje, quando o frio é mais intenso,
também costumo usar o meu xaile (que não é bem igual aos de antigamente). Sempre
que o coloco nos ombros lembro-me da mãe e imagino o que diria se me visse
agora de xaile; tenho a certeza que também ia gostar; ia dizer que tem umas
cores bonitas e aproveitar a oportunidade para cantar “O xaile de minha mãe que
me aqueceu com carinho…”.
Se a mãe ainda estivesse connosco, o mais certo é que uma de
nós já lhe teria oferecido um xaile bonito, de cores alegres como ela muito
gostava. Então, quando as vizinhas e amigas lhe dissessem que tinha um xaile
bonito, diria com vaidade ter sido um presente das filhas.
Como se eu estivesse a ver!...
Funchal, 26-02-2016
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