sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Xaile com franjas

O XAILE DA MÃE

            Nestes tempos de inverno, em que os ponchos e os xailes são acessórios que fazem parte da moda feminina, lembro-me muitas vezes do meu tempo de criança, quando também era hábito as mulheres usarem o seu xaile para se agasalharem ou mesmo para comporem a sua indumentária. Nesse tempo as mulheres viúvas usavam um xaile preto e as outras um xaile de cor que servia também para agasalhar no colo as criancinhas pequenas. Eu achava graça ao modo como as mulheres pegavam nos pequenos e os embrulhavam com o xaile, um lado preso por baixo do braço que segurava o pequeno e outro lado por cima a tapá-lo; só a carinha ficava à vista.

            Lembro-me bem das minhas duas avós com o seu xaile, mas nunca vou esquecer o xaile da mãe. Era em xadrez miudinho, em tons esverdeados e castanhos, com franjas. Aquele xaile aconchegou-nos a todos no seu colo e, tal como dizia o fado, também nos aqueceu com carinho. Muitas vezes, quando pegava ao colo os meus irmãos mais pequenos, tentei imitar a mãe embrulhando-me com o seu xaile, querendo fazer como ela e as outras mulheres faziam, mas o xaile era bem maior do que eu e por isso nunca me ajeitava daquela maneira.

            Hoje, quando o frio é mais intenso, também costumo usar o meu xaile (que não é bem igual aos de antigamente). Sempre que o coloco nos ombros lembro-me da mãe e imagino o que diria se me visse agora de xaile; tenho a certeza que também ia gostar; ia dizer que tem umas cores bonitas e aproveitar a oportunidade para cantar “O xaile de minha mãe que me aqueceu com carinho…”.

Se a mãe ainda estivesse connosco, o mais certo é que uma de nós já lhe teria oferecido um xaile bonito, de cores alegres como ela muito gostava. Então, quando as vizinhas e amigas lhe dissessem que tinha um xaile bonito, diria com vaidade ter sido um presente das filhas.

Como se eu estivesse a ver!...

 
Funchal, 26-02-2016

 

  

 
 
 
 
 
 

 

  

 

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