sábado, 20 de fevereiro de 2016

Retratos e mais retratos

 

FOTOGRAFIAS A PRETO E BRANCO

No tempo em que eu era pequena, o fotógrafo de São Vicente era o senhor Fernando, o Gordo como lhe chamavam, para o distinguir de outro com o mesmo nome que havia na vila e era o Magro.

O senhor Fernando Gordo era uma pessoa importante; tinha uma lindíssima voz de tenor e cantava nas missas junto com o Senhor Ernesto que tocava órgão; a sua voz enchia a igreja e também as almas que o ouviam cantar. Até hoje, guardo na memória as missas cantadas na igreja do Rosário: os músicos no coro e o povo encantado com o som do órgão sabiamente tocado e acompanhado por aquelas fantásticas vozes. 

  Para além deste dom musical, o senhor Fernando tinha também habilidade para a fotografia. Tinha o seu espaço na vila, ali perto da igreja, quase no início das escadinhas. Quando alguém precisava de fotografias era lá que se dirigia.

Foi lá que tirei as fotografias para o meu primeiro bilhete de identidade, quando acabei a quarta-classe e me matriculei no Ciclo Preparatório, no Colégio Externato de São Vicente. Dessa vez, a tia é que foi comigo; ia com ela passar uns dias a São Jorge e passámos pela vila para eu tirar as fotografias.

Mais tarde, já depois do 25 de Abril, o pai fez o cartão da Casa do Povo e teve também que fazer um cartão para cada um de nós. Então, lá foi a malta à vila, tirar retratos no senhor Fernando. A mãe chamou um carro de praça e foi tudo de rancho, todos menos eu, porque estava em aulas e só pude ir no domingo seguinte.

Esse dia foi uma verdadeira aventura, parecia que a sessão de fotografia nunca mais chegava ao fim. O senhor Fernando metia a cabeça debaixo do pano preto, depois vinha ao meu pé, endireitava-me os ombros, dava-me um jeito no cabelo, levantava-me o queixo e dizia para eu não me mexer; voltava para a máquina fotográfica e mandava-me dar um sorriso para fazer os furinhos na cara. Eu, que sempre me desmanchava a rir por tudo e por nada, desatava a rir e já não ficava direita para a fotografia. Começava tudo de novo, e depois de voltas e voltas lá consegui tirar as fotografias. E fiquei realmente com os furinhos na cara…

 


 


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