SOPA DE ABÓBORA
Há imagens que inevitavelmente me levam a memória para
aqueles tempos em que era ainda bem pequena. Ainda agora, ali na frutaria ao pé
de casa, dei de caras com umas abóboras tenras e viçosas, daquelas que também
se costuma chamar bogangas, e logo me lembrei do tempo em que na nossa terra
das Fajãs, tínhamos destas abóboras, com tanta fartura que algumas chegavam a
perder-se lá no meio dos baraços e da erva.
Neste tempo de fartura,
a mãe fazia sopa de abóbora com alguma frequência, aquela sopa bastante
consistente, com feijão seco, carne de porco salgada ou tripas de porco curadas
no fumeiro. Assim que eu percebia que a mãe ia fazer aquela sopa eu já tinha um
desgosto, porque não gostava mesmo nada, embora fosse obrigada a comer.
Até para a sopa de abóbora, a mãe contava histórias do tempo
em que na casa das Fontes a avó Silvéria
também a fazia, de quem gostava ou não gostava, e os comentários que a respeito
se sucediam. Então, o pai que às vezes gostava de me arreliar, dizia que quando
morresse a terra das abóboras seria para mim, e eu logo lhe respondia que se
aquela terra fosse para mim nunca mais se plantava lá abóboras. Como era ainda
bem pequena todos acharam graça à minha resposta, que ficou logo na história e
era lembrada sempre que vinha a propósito, normalmente quando à refeição
tínhamos a dita sopa.
Efectivamente, desde que deixei de ser obrigada a comer sopa
de abóbora, eu nunca mais a comi e acho que já nem me lembro do sabor que tem.
Fiquei sempre com aquela ideia de que não gosto mesmo. Mas pensando bem, acho
que um dia destes vou comprar uma “aboarinha” e vou fazer uma sopa. Depois
convido Agostinho, que tal como eu não gostava daquela sopa, para ver se
realmente gostamos ou não de sopa de abóbora.
Nunca é tarde para aprender!...
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