sábado, 27 de fevereiro de 2016

O bazar da Festa do Rosário


QUEM DÁ MAIS?

Eram vários bazares, um por cada sítio e começavam a ser organizados com algumas semanas de antecedência.

Ao domingo as raparigas juntavam-se para bordarem os panos de tabuleiro em ponto de cruz, ponto do diabo, ponto de alinhavo, ponto matiz ou caseado. Também bordavam tapetes em fada do lar. Eram tapetes com o fundo todo preto, onde com lãs às cores elas bordavam animais ou flores. Ficavam bonitos estes tapetes, mas os que eu mais gostava eram aqueles com gatos ou tigres cujos olhos eram de vidro.

No sábado do Rosário pela manhã, já as responsáveis pelo bazar iam pelas casas e as pessoas ofereciam pão de casa, as rosquilhas ou bolos de noiva; também havia quem oferecesse um bolo de vasilha, o bolo amarelo, o bolo preto ou o bolo raiado, envolvido em papel de manteiga.

Na nossa casa a mãe fazia uma rosquilha diferente, em forma de trança, especificamente para este fim.

Enquanto se ia amassando, tendendo e cozendo o nosso pão do Rosário, a mãe contava que naquele tempo (era sempre assim que a mãe começava as suas histórias, referindo-se ao seu tempo de juventude) a responsável pelo bazar do nosso sítio, a Vargem de Cima, era a minha avó Serafina, mãe do meu pai. Algum tempo antes, a avó ia pelas casas buscar o trigo que os vizinhos ofereciam, joeirava-o e levava-o ao moinho; depois ela mesma com a ajuda das vizinhas, amassava na nossa casa o pão e os bolos de noiva para vender no bazar. Era uma semana de barafunda em que ninguém parava. Para além disso, também vinham vizinhas que não tinham forno, amassar o seu pão na casa da avó, e o pão da casa era sempre o último a ser amassado e cozido.

A avó Serafina passava no bazar toda a noite da festa e era ela quem cuidava do dinheiro. Saía de casa no sábado e só chegava no domingo à noite.

Toda a gente se empenhava para que o seu bazar fosse o mais concorrido e o que desse mais dinheiro para a igreja. Então as pessoas ofereciam o que de melhor tiravam das suas culturas agrícolas: um cesto de semilhas, as pimpinelas e os pepinos, as abóboras, um cabo de cebolas, os pêros rosados que já iam aparecendo…e as prateleiras do bazar ficavam bem compostas.

Depois era sempre um regalo, ouvir a voz do rapaz, empoleirado em cima do balcão para que todos o vissem, a apregoar:

_ São vinte escudos!!!…Quem dá mais?!!!... Vinte escudos, quem dá mais!!!...Vendido, ali para aquela senhora!!!...

 E o pregão continuava pela noite dentro até ao domingo enquanto houvesse o que vender.

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