QUEM DÁ MAIS?
Eram
vários bazares, um por cada sítio e começavam a ser organizados com algumas
semanas de antecedência.
Ao
domingo as raparigas juntavam-se para bordarem os panos de tabuleiro em ponto
de cruz, ponto do diabo, ponto de alinhavo, ponto matiz ou caseado. Também
bordavam tapetes em fada do lar. Eram tapetes com o fundo todo preto, onde com
lãs às cores elas bordavam animais ou flores. Ficavam bonitos estes tapetes,
mas os que eu mais gostava eram aqueles com gatos ou tigres cujos olhos eram de
vidro.
No
sábado do Rosário pela manhã, já as responsáveis pelo bazar iam pelas casas e
as pessoas ofereciam pão de casa, as rosquilhas ou bolos de noiva; também havia
quem oferecesse um bolo de vasilha, o bolo amarelo, o bolo preto ou o bolo
raiado, envolvido em papel de manteiga.
Na
nossa casa a mãe fazia uma rosquilha diferente, em forma de trança,
especificamente para este fim.
Enquanto
se ia amassando, tendendo e cozendo o nosso pão do Rosário, a mãe contava que
naquele tempo (era sempre assim que a mãe começava as suas histórias,
referindo-se ao seu tempo de juventude) a responsável pelo bazar do nosso
sítio, a Vargem de Cima, era a minha avó Serafina, mãe do meu pai. Algum tempo
antes, a avó ia pelas casas buscar o trigo que os vizinhos ofereciam,
joeirava-o e levava-o ao moinho; depois ela mesma com a ajuda das vizinhas,
amassava na nossa casa o pão e os bolos de noiva para vender no bazar. Era uma
semana de barafunda em que ninguém parava. Para além disso, também vinham
vizinhas que não tinham forno, amassar o seu pão na casa da avó, e o pão da
casa era sempre o último a ser amassado e cozido.
A
avó Serafina passava no bazar toda a noite da festa e era ela quem cuidava do
dinheiro. Saía de casa no sábado e só chegava no domingo à noite.
Toda
a gente se empenhava para que o seu bazar fosse o mais concorrido e o que desse
mais dinheiro para a igreja. Então as pessoas ofereciam o que de melhor tiravam
das suas culturas agrícolas: um cesto de semilhas, as pimpinelas e os pepinos, as abóboras,
um cabo de cebolas, os pêros rosados que já iam aparecendo…e as prateleiras do
bazar ficavam bem compostas.
Depois
era sempre um regalo, ouvir a voz do rapaz, empoleirado em cima do balcão para
que todos o vissem, a apregoar:
_
São vinte escudos!!!…Quem dá mais?!!!... Vinte escudos, quem dá
mais!!!...Vendido, ali para aquela senhora!!!...
E o pregão continuava pela noite dentro até ao
domingo enquanto houvesse o que vender.
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