SAUDADES, MAS JÁ NÃO HÁ PÊSSEGOS!
Às vezes vem-me à lembrança certas frases que desde pequena
habitualmente ouvia, mas que entretanto se foram diluindo com o passar dos
anos. Uma dessas frases era esta que sempre ouvi e à qual achava imensa graça,
quando alguém mandava saudades por encomenda para outra pessoa que estivesse
embarcada: “ – Diz que lhe mando saudades, mas já não há pêssegos!”. Nunca tive
a explicação para esta frase, mas decerto terá sido proferida uma primeira vez
por alguém, tendo logo sido aproveitada por outra pessoa que lhe achou piada,
continuando a dizê-la sempre que vinha a propósito, e estará relacionada com os
muitos pessegueiros carregadinhos de pêssegos que havia nas fazendas do
Rosário, por estas alturas do Verão e princípios do Outono. Estes pessegueiros
nasciam espontaneamente e davam uns pêssegos miúdos muito saborosos, daqueles
que soltavam o caroço, bem diferentes destes que agora costumamos comer,
comprados na frutaria ou no supermercado.
Também na nossa terra das Fajãs, tínhamos vários destes
pessegueiros, mas eu lembro-me especialmente de um grande que tínhamos mesmo ao
pé de casa, na fazenda onde se plantava inhame e feijão. Este pessegueiro já
vinha do tempo da avó Serafina e dava muito bons pêssegos, quase sempre cobiçados
por quem passava por ali, pois ficava mesmo à beira do caminho. Quando o pai ia
cavar o inhame encontrava sempre muitas pedras que alguém tinha atirado ao
pessegueiro para apanhar os pêssegos, sem que ninguém visse.
A este propósito a mãe contava um episódio engraçado, passado
com uma nossa vizinha do pé da porta, que mesmo das janelas de casa via
diariamente o nosso pessegueiro. Um dia, ia a avó Serafina apanhar os pêssegos
e já ela vinha com a abada do avental cheia deles. É claro que a avó não gostou
mesmo nada e perguntou-lhe quem lhe tinha dado autorização para tal. Então essa
vizinha, que até era amiga da avó, respondeu ter sido ela quem atirou os
caroços para que nascesse o pessegueiro, por isso, também podia apanhar os
pêssegos. A conversa ficou por ali e continuaram amigas como sempre.
O pessegueiro já secou há muitos anos, mas continua a fazer
parte da minha memória, bem como este simples episódio, de cuja protagonista eu
apenas conheço o nome pelas várias vezes que ouvi a mãe falar dela e da sua
família. E vou continuar a dizer que há muitas saudades mas já não há
pêssegos!...
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