sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Pêssegos e pessegueiros


SAUDADES, MAS JÁ NÃO HÁ PÊSSEGOS!

Às vezes vem-me à lembrança certas frases que desde pequena habitualmente ouvia, mas que entretanto se foram diluindo com o passar dos anos. Uma dessas frases era esta que sempre ouvi e à qual achava imensa graça, quando alguém mandava saudades por encomenda para outra pessoa que estivesse embarcada: “ – Diz que lhe mando saudades, mas já não há pêssegos!”. Nunca tive a explicação para esta frase, mas decerto terá sido proferida uma primeira vez por alguém, tendo logo sido aproveitada por outra pessoa que lhe achou piada, continuando a dizê-la sempre que vinha a propósito, e estará relacionada com os muitos pessegueiros carregadinhos de pêssegos que havia nas fazendas do Rosário, por estas alturas do Verão e princípios do Outono. Estes pessegueiros nasciam espontaneamente e davam uns pêssegos miúdos muito saborosos, daqueles que soltavam o caroço, bem diferentes destes que agora costumamos comer, comprados na frutaria ou no supermercado.

Também na nossa terra das Fajãs, tínhamos vários destes pessegueiros, mas eu lembro-me especialmente de um grande que tínhamos mesmo ao pé de casa, na fazenda onde se plantava inhame e feijão. Este pessegueiro já vinha do tempo da avó Serafina e dava muito bons pêssegos, quase sempre cobiçados por quem passava por ali, pois ficava mesmo à beira do caminho. Quando o pai ia cavar o inhame encontrava sempre muitas pedras que alguém tinha atirado ao pessegueiro para apanhar os pêssegos, sem que ninguém visse.

A este propósito a mãe contava um episódio engraçado, passado com uma nossa vizinha do pé da porta, que mesmo das janelas de casa via diariamente o nosso pessegueiro. Um dia, ia a avó Serafina apanhar os pêssegos e já ela vinha com a abada do avental cheia deles. É claro que a avó não gostou mesmo nada e perguntou-lhe quem lhe tinha dado autorização para tal. Então essa vizinha, que até era amiga da avó, respondeu ter sido ela quem atirou os caroços para que nascesse o pessegueiro, por isso, também podia apanhar os pêssegos. A conversa ficou por ali e continuaram amigas como sempre.

O pessegueiro já secou há muitos anos, mas continua a fazer parte da minha memória, bem como este simples episódio, de cuja protagonista eu apenas conheço o nome pelas várias vezes que ouvi a mãe falar dela e da sua família. E vou continuar a dizer que há muitas saudades mas já não há pêssegos!...

 

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