Como gosto de viajar!
Desde bem pequena me habituei a ouvir falar de outras terras
e outros países o que despertava em mim uma enorme curiosidade. O pai sempre
contava histórias do Brasil e do Curaçau e eu punha-me a imaginar como seriam
esses lugares e como seria viver lá.
Uma história que trago sempre na minha memória foi o passeio
que a madrinha e o padrinho fizeram a Lisboa quando eu tinha talvez uns cinco
ou seis anos. Quando chegaram da viagem a madrinha trouxe um bocado de fazenda
para a mãe me fazer um vestido e também trouxe alguns postais dos lugares por
onde passearam. Eu ouvia com muita atenção a madrinha a contar as belezas
desses lugares. Pela primeira vez ouvi falar da imponência do Arco da Rua
Augusta que a madrinha associava com o seu próprio nome que também era Augusta,
da imensidão do Terreiro do Paço com a estátua de D. José, mas sobretudo da
beleza da fonte luminosa na Alameda D. Afonso Henriques que segundo dizia, era
de uma indescritível beleza; não me escapou também o Palácio de Vila Viçosa e o
Rio Nabão na cidade de Tomar onde o Arturinho havia estudado para piloto da
Força Aérea. Guardei todos estes nomes na minha memória e o desejo secreto de
também um dia os vir a conhecer.
Entretanto, chegavam pelo correio os postais do tio Agostinho
que trabalhava num navio e viajava pelo mundo todo. Uma vez o tio mandou um postal do Japão e uma fotografia sua na
cidade de Tóquio; depois chegou um postal com uma japonesa muito bonita que
consoante a posição em que colocássemos o postal, fechava um olho como se
estivesse a namorar, o que nos arrancava enormes gargalhadas; quando alguma vizinha
vinha à nossa casa a mãe mostrava o postal e todos ficavam muito admirados. De
quase todos os portos em que o navio atracava, o tio mandava um postal ou fotografia:
da Argentina, do Perú, do Chile e da América, onde por uma vez se encontrou com
a tia Joana, irmã da avó Silvéria.
Um pouco maior, quando já andava no colégio, adorava as
histórias que a D. Lucinda Andrade, minha professora de Francês, contava sobre
as viagens que tinha feito pela Europa, mas principalmente a sua viagem a
França. Eu sabia o nome dos principais monumentos de França mesmo sem nunca lá
ter ido, e imaginava a sua beleza, pelo modo entusiástico e sentido como a D.
Lucinda nos descrevia todos os pormenores.
Todas estas histórias aguçavam-me cada vez mais o tal desejo,
só meu, de um dia conhecer estes lugares e ver com os meus próprios olhos as
maravilhas que eu ouvira e guardara na minha memória.
No último ano do Curso do Magistério Primário chegou o tão
desejado dia de fazer a minha primeira viagem, uma visita de estudo pelo
continente. Então tive a oportunidade de conhecer todos aqueles lugares que eu
imaginara só de ouvir falar deles, naquela viagem que a madrinha e o padrinho
fizeram quando eu era ainda uma criança, curiosa e ávida por saber e aprender.
Depois vieram outras viagens, como a viagem a Itália onde
pude conferir tudo o que havia aprendido sobre o Império Romano, na disciplina
de História.
Mas a viagem que adorei foi, sem qualquer dúvida, a minha
viagem a Paris. Nesta viagem lembrei-me muitas vezes da D. Lucinda e das nossas
aulas de Francês. De todas as belezas que vi, a que mais profundamente me tocou
foi a Sainte Chappelle que é realmente uma pequena maravilha, tal como, com
toda a sua alma, nos havia contado a D. Lucinda.
Com histórias tão bonitas que ouvi quando era pequena, seria
impossível não gostar de viajar!...
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