A
NOITE DO ROSÁRIO
No
sábado era a grande noite do Rosário. Ao fim da tarde, já todos se encaminhavam
para a Capela Velha, muita gente atrás da banda de música que terminava as
visitas pelos sítios no largo da ponte, e também descia a pé a Rochinha, a
caminho da igreja.
Nós
também lá íamos, não sem antes cearmos um bom caldo de carne de vaca
acompanhado com pão de rosquilha. E enquanto comíamos lá vinham os avisos da
mãe, que já sabíamos de cor dos anos anteriores: ninguém passava do canto da
ponte para lá nem das casas de banho para cima; tínhamos que andar bem à vista
para a mãe nos encontrar quando fosse preciso.
E enquanto a mãe ia à novena, nós aproveitávamos para dar as nossas voltinhas, vendo as barracas de quinquilharias em que havia de tudo: os chapéus de palha com fita colorida pendurados, os cordões de doces, os rebuçados que pegavam nos dentes, embrulhados em papel de seda colorido, aqueles rebuçados compridos também embrulhados em papel de seda, com franjinhas nas pontas, os anéis e os relógios, as bonecas de todos os tamanhos, as cornetas, as castanholas, as gaitas e os tambores. Tudo nos encantava e lá ficávamos a pensar o que poderíamos comprar com aqueles cinco escudos que a tia ou a madrinha nos tinham dado.
E enquanto a mãe ia à novena, nós aproveitávamos para dar as nossas voltinhas, vendo as barracas de quinquilharias em que havia de tudo: os chapéus de palha com fita colorida pendurados, os cordões de doces, os rebuçados que pegavam nos dentes, embrulhados em papel de seda colorido, aqueles rebuçados compridos também embrulhados em papel de seda, com franjinhas nas pontas, os anéis e os relógios, as bonecas de todos os tamanhos, as cornetas, as castanholas, as gaitas e os tambores. Tudo nos encantava e lá ficávamos a pensar o que poderíamos comprar com aqueles cinco escudos que a tia ou a madrinha nos tinham dado.
Quando
terminava a novena já deveríamos estar pelas redondezas do adro da igreja para
que quando saísse a mãe nos encontrasse e nos dissesse que não nos afastássemos
para longe porque não faltava muito tempo para irmos embora. Nós bem pedíamos
que nos deixasse ver a girândola da meia-noite e o fogo de vistas
(fogo-de-artifício), mas a mãe gostava de se deitar cedo e só descansava quando
nos via a todos portas a dentro. Era um desconsolo, mas não havia outro remédio,
íamos mesmo para casa. Mas só com a mãe porque o pai gostava de andar a noite
toda na festa a apreciar o movimento, hábito que sempre tivera desde novo.
Depois já ia direito para o Lombo, tirar o leite à vaca e verificar se nenhum
romeiro tinha roubado as maçarocas que lá tínhamos na fazenda à espera de serem
colhidas.

E
ouvindo a música nos altifalantes da Achada do Beirão e os foguetes que de vez
em quando estalavam, lá íamos todos muito contrariados até casa e adormecíamos
sentindo ainda dentro da nossa cabeça todo aquele alvoroço da festa.
Então
a mãe, sabida como era e também boa madrugadora, levantava-se bem cedo, toda
sorrateira e deixava-nos a dormir. Ia à Capela Velha para saber do pai, como
sempre dizia, mas eu acho que também ia para ver os romeiros e os brincos que
de manhã ainda continuavam com os seus despiques. Quando chegava a casa
contava-nos cenas engraçadas que tinha presenciado, fazendo-nos rir às
gargalhadas.
E
lá se tinha passado a noite do Rosário!
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