A RESPEITO DE NOZES…
Estando
eu ali há pouco a partir umas nozes de São Vicente, lembrei-me do meu tempo de
pequena.
Nas nossas terras das Fajãs tínhamos várias árvores de fruta:
pereiros e macieiras, muitas ameixieiras, pereiras, um damasqueiro e alguns
pessegueiros, uma ou duas cerejeiras cujas cerejas eram tão poucas que só os
melros as comiam e vários castanheiros; só não tínhamos uma nogueira. Então a
mãe dizia-nos sempre que como não tínhamos nogueiras, não queria nozes em casa.
Dizia-nos isto que era para não irmos para as terras alheias buscar o que não
era nosso e porque não devíamos cobiçar os bens dos outros. No entanto, embora
não tivéssemos nogueiras, sempre havia alguém que nos trazia nozes, porque como
tínhamos muitos castanheiros, também dávamos castanhas a quem não tivesse. Entretanto,
o pai que sempre gostou de plantar árvores de fruto plantou uma nogueira, a
qual depois de alguns anos começou a dar nozes e ainda lá continua.
Também me veio à lembrança, as vezes em que a madrinha me punha
a partir as nozes para fazer o bolo de noz ou o bolo de caramelo,
principalmente pela Festa ou pelo Espírito Santo; eu partia-as com um martelo
de madeira, usado para bater os bifes mas que também dava muito jeito a partir
as nozes. Era preciso muita paciência, porque ainda demorava algum tempo até
que se tivesse a quantidade necessária para fazer o bolo. Depois ainda faltava
moê-las com o moinho de mão, que a madrinha colocava, bem apertado para que não
se soltasse, na beira da mesa da cozinha.


E o meu pensamento continua naquela nogueira grande que o
padrinho tinha lá em cima nas Covas, mesmo à beira da estrada. Não sei se
secou, mas penso que ainda lá deve estar no meio das outras árvores; certamente
ainda dá nozes e alguém deve levá-las para casa, mesmo sabendo que aquela
nogueira não é sua ou então, pensando que não tem dono.
Como diria a mãe, “os tempos são outros!”.
Sem comentários:
Enviar um comentário